Posts Tagged ‘Sociedade’

Senhor juiz, desde já, peço a absolvição da criança que me matará

quarta-feira, dezembro 7th, 2016

Moro num bairro rico de São Paulo. Por conta da localização do escritório de trabalho, resolvi pagar um aluguel mais caro e ficar bem perto. Em compensação, economizei em outros gastos com locomoção. E, claro, com saúde. Suportar o trânsito diariamente por aqui é arriscar coração, fígado etc. Faz 21 meses que vim pra cá. E uma das coisas mais perceptíveis nas ruas é o vertiginoso crescimento de uma população invisível para os carniceiros que comandam o país: pedintes, desempregados, moradores de rua. (mais…)

Das 20h às 23h28

quinta-feira, março 17th, 2016

Chupa, Lula! Às oito horas, gritaram lá embaixo no momento em que fechei o vidro do nono, pendurei a bolsa no ombro direito (procedimento que se não me engano está começando a me dar dor nas costas) e desci a pé os quase duzentos degraus (alivia um pouco o peso da consciência), dei boa noite ao guarda-noturno que sempre me diz bom descanso pro senhor (pro senhor!), ganhei a calçada e dei de cara com dois caras, um negro alto e um branco baixo, ambos parados ouvindo algo no celular, que logo percebi como sendo a tal gravação Lula/Dilma. (mais…)

Sobre Mariana e Paris

sábado, novembro 14th, 2015

Descascávamos as laranjas miúdas e doces, e as cascas desprendendo sumo que impregnava as mãos e os braços caíam sobre o capim, onde aos poucos, e com o passar dos dias, misturavam-se ao solo, talvez alimentando suas raízes ou apenas fundindo-se naturalmente com a história de seu bioma, por assim dizer, num sexo elementar em que a terra imemorial penetra o vegetal úmido, ou vice-versa, tanto faz (mais…)

Renascidos do inferno

terça-feira, março 3rd, 2015

O confronto entre dois Brasis – o que gostaria de se ver livre de Dilma e do PT e o que a elegeu e ainda acredita na presidente e na estrutura política que a sustenta – faz borbulhar neste momento a ignorância que geralmente permanece encoberta pela omissão nascida de receios, as bravatas sem sentido de gente desacostumada a discutir política, os rancores formulados a partir de bases frouxas e os ódios rasos quase sempre obtidos pela falta de argumentos. Tudo isso é verdade, mas há algo mais importante acontecendo: finalmente abrimos, em meio ao torpor do futebol e de todas as banalidades de nosso cotidiano, uma pequena fresta para olhar o que realmente importa. (mais…)

Questão glútea

sábado, novembro 22nd, 2014

Nem mesmo as duas ligações telefônicas atendidas simultaneamente foram suficientes para impedir-me o espanto e logo, a curiosidade. Dona Henrica havia marcado a consulta jurídica há dois dias, ligara na véspera e naquela manhã também, antes de dirigir-se ao escritório onde advogo. Havia uma extrema ansiedade em seu rosto quando a secretária, descumprindo uma ordem expressa de minha parte, enfiou-a subitamente sala adentro. Minha surpresa, entretanto, não residiu em sua expressão, mas na parte do corpo que separa as costas das pernas, ou seja, a região glútea. (mais…)

Do lado de fora da Copa

terça-feira, junho 24th, 2014
Cena do filme "O ano em que meus pais saíram de férias"

Cena do filme “O ano em que meus pais saíram de férias”

No filme “O ano em que meus pais saíram de férias”, há uma cena emblemática capaz de traduzir o sentimento que embala o torcedor numa Copa do Mundo. Um grupo de revolucionários assiste ao jogo Brasil x Tchecoslováquia e quando o país europeu (então um estado comunista que ainda reunia a República Tcheca e a Eslováquia) abre o placar, vários deles gritam gol, fecham os punhos, dizem palavras de ordem etc. No entanto, minutos depois, quando Rivelino cobra uma falta e empata, aí sim há uma explosão espontânea e eles se abraçam, vibram e comemoram independentemente de posições políticas. (mais…)

Uma rapidinha sobre o fuzuê das relações sociais pela rede

quinta-feira, junho 5th, 2014

As novas relações humanas, motivadas ou mesmo mantidas pelas redes sociais, criaram uma vertente que às vezes assusta: trata-se do “misturê-fuzuístico-se-eu-não-jogar-levo-a-bola-embora”.

De modo quase inacreditável, pessoas que se dizem democratas e blablablá desovam uma intolerância impressionante nos mais rasos debates sobre política ou comportamento. (mais…)

A tática do Tufim e o futuro do passado

terça-feira, maio 20th, 2014
Eu aos 9: terceiro ano do grupo escolar

Eu aos 9: terceiro ano do grupo escolar

– Você acha que pode? – a mulher que aparenta ter sessenta anos bate uma das mãos na perna, indignada, na fila do banco.

Estão em duas e falam sobre um episódio banal numa escola pública. O aluno quis descer o braço na professora. Pelo que ouvi delas, a coisa não chegou às vias de fato. E talvez a indignação daquela senhora de baixa estatura e olhos graúdos atrás dos óculos acabe se perdendo na grande babel em que se transformou a escola pública no Brasil. (mais…)

“Ela”, o filme, e o tronco da bananeira

sexta-feira, abril 4th, 2014

Eu conheci um cara que na infância tinha uma bananeira preferida. “Quando eu faço o buraco no tronco, eu converso com ela", ele me disse uma vez. "E eu a ouço quando a gente está... você sabe", ele também me disse. Veja bem o que ele me disse: "... quando a gente está". Ou seja, ele incluiu a bananeira no mundo da razão, ele deu uma consciência à bananeira. (mais…)

O chiqueirinho do elo perdido

sexta-feira, março 28th, 2014

A discussão na Assembleia Legislativa sobre a criação de vagões exclusivos para mulheres no Metrô é quase inacreditável. Parece roteiro de um desses programas de humor que exageram nos temas desprezíveis e em suas caricaturas exatamente com o objetivo de chamar atenção para o absurdo que representam. (mais…)