Archive for maio, 2007

O “tio do azar”

domingo, maio 27th, 2007

Por Sândor Vasconcelos

As crenças e superstições são um tempero, um ingrediente a mais no meio futebolístico. Tem o técnico que usa sempre a mesma camisa em decisões, tem o que carrega dezenas de cordões para se agarrar e beijar durante a partida. Há também o torcedor que só vê o jogo usando a cueca da sorte e o jogador que só entra em campo pisando com a chuteira direita. Alguns acreditam, outros acham besteira. (mais…)

herself – Texto de Thiago Roque

sexta-feira, maio 25th, 2007

era só escuridão quando ela abriu os olhos.

na verdade, decidira que era o fim da linha.

levantou do colchão velho e rasgado, arrastou a combinação calça de moleton cinza mais camiseta do iggy pop pela cozinha, acendeu uma vela, pegou caneta e papel. mas não sabia bem o que ia escrever.

afinal, nos cursos de etiqueta, não ensinam como uma dama deve se portar em um suicídio. (mais…)

A pílula – Texto de Reinaldo Chaves

sexta-feira, maio 25th, 2007

Cada vez que tomo a pílula não sinto nada. O efeito não vem nem depois que a droga passa para a corrente sangüínea. Mas me garantiram que essa não é uma pílula de farinha, há uma química nela. Não ligo, o importante é que estão me pagando. (mais…)

Prato, bolacha e amor – Texto de João Pedro Feza

sexta-feira, maio 25th, 2007

Bailarina, carrossel, helicóptero, a Terra. A Terra. E o liqüidificador também.

Tanta coisa gira e o girar instiga quem vê. “Preciso dar um giro por aí.” “É preciso se virar.” “Dá uma rodada pra saber.”

A cidade explica. Movimento é vida em vibração. Às voltas com a vida, preferimos assim.

Mas nem mesmo o próprio planeta gira tão lindamente quanto um disco de vinil no prato sempre receptivo a girar sem queixas. (mais…)

O trato

quinta-feira, maio 24th, 2007

Ainda não eram nove da manhã e Edgar já estava à espera, na sua sala, quando Danilo entrou. Pediu-lhe que fechasse a porta, e ele mesmo já havia baixado as persianas que davam para a sala dos redatores, numa tentativa de evitar que aquela conversa pudesse ser decifrada pela leitura de lábios. Mesmo assim, sentou-se de frente para Danilo, dando as costas para as persianas. (mais…)

Lili erva-doce – Texto de Otávio Nunes

quinta-feira, maio 24th, 2007

Da primeira vez que Lílian entrou aqui, na padaria, notei que era diferente das demais meninas que trabalham nesta rua. Ela é educada, raramente fala palavrões, não fuma, é cheirosa e seus cabelos estão sempre molhados como se saísse do banho a cada minuto. Suas roupas, embora das mais baratas, se amoldam perfeitamente ao seu corpo, como a casca na banana. (mais…)

O Corretivo dos Cordeiros – de Fernando Sorrentino

quinta-feira, maio 24th, 2007

O Corretivo dos Cordeiros
(Fernando Sorrentino é escritor, tradutor e romancista argentino)

Segundo notícias de fontes muito variadas – e sempre fidedignas –, ultimamente o Corretivo dos Cordeiros tem aparecido, cada vez com maior freqüência, em pontos diferentes de Buenos Aires e de localidades próximas.

Todas as informações coincidem quanto à descrição da maneira como se dá o surgimento do Corretivo: aparecem de repente, como se viessem do nada, cinqüenta cordeiros brancos; em seguida, lançam-se contra uma vítima – evidentemente pré-escolhida – e em poucos segundos a devoram e a carcomem até deixá-la no osso; e assim, tão subitamente como chegaram, em instantes se dispersam, fugindo em todas as direções. Ai de quem ouse estorvar-lhes a fuga: no início foram registrados muitos casos fatais; depois, os imprudentes em potencial aprenderam a lição e já ninguém se opôs ao Corretivo. (mais…)

Correndo por fora – Texto de Otávio Nunes

quarta-feira, maio 23rd, 2007

Sábado de manhã, sol ainda tímido, pedindo licença ao dia, Clésio bate
palma no portão. Sonolento e sem vontade, Jobélio pousa a xícara de
café na mesa e levanta-se para atender o dono das mãos que fazem
aquele barulho chato tão cedo. Pensa ser algum vendedor, ou pregador
religioso e quase desiste de chegar ao portão. Mas vai assim mesmo, a
ruminar alguns impropérios. (mais…)

A dor imortal – Texto de Leonardo Brasiliense

quarta-feira, maio 23rd, 2007

É noite clara, de lua cheia. No campo, se ouve apenas o barulho dos bichos, corujas, grilos, a Maria Clara que, sentada na beira do açude, canta versos de amor. São versos de um poeta morto há muito, muito tempo, escritos para sua paixão que fugiu com outro, mar afora, sem nunca voltar. (mais…)

Jesus Cristo, os livros estão aqui – Texto de Lucius de Mello

domingo, maio 20th, 2007

Se a fogueira for mesmo o destino dos 10.700 exemplares da biografia Roberto Carlos em Detalhes, recolhidos nesta primeira semana de maio por ordem da justiça, do galpão da editora Planeta, não posso deixar de pensar que, infelizmente, o Brasil também chegou em frente ao portão do Estado totalitário imaginado pelo autor americano Ray Bradbury, em 1966, quando escreveu Fahrenheit 451. Não só chegou ao portão, como também passou por ele para pôr em prática o que no Oriente Médio já é comum e que entre nós ainda era apenas uma história de ficção científica. (mais…)