O chiqueirinho do elo perdido

A discussão na Assembleia Legislativa sobre a criação de vagões exclusivos para mulheres no Metrô é quase inacreditável. Parece roteiro de um desses programas de humor que exageram nos temas desprezíveis e em suas caricaturas exatamente com o objetivo de chamar atenção para o absurdo que representam.

Não parece um sonho surreal que no ano 2014 pensem em instrumentos de proteção para o público feminino? E uma proteção para salvá-lo dos… homens???

Sustentada por meia dúzia de neurônios lúcidos, minha tese para a existência humana é de um regime rigorosamente cíclico, um ciclo circular.

Assim como circulam os planetas no sistema solar, a lua ao redor da terra, e a terra em torno de si mesma, também desse mesmo modo avança a humanidade: em ciclos que, de algum modo, repetem-se de tempos em tempos sem que, muitas vezes, tomemos consciência do fenômeno.

Um exemplo quase antropológico: no meio do século passado, originou-se um desmedido êxodo rural. O campo esvaziou-se. As cidades incharam. Hoje, sentadas sobre a merda que fizeram, as pessoas tentam zarpar para locais próximos da natureza. E, como agiram nas cidades, nesta etapa seguinte se ocupam de providenciar uma nova devastação.

As brilhantes tecnologias, a correria das metrópoles, as relações superficiais e todo o estrépito que constitui os pilares da chamada sociedade moderna são cada vez mais questionados por setores que, ao contrário da grande zumbilândia que percorre as ruas de cabeça baixa e olhos colados no visor de seus celulares, ipads e o escambau, esses setores vislumbram já a necessidade de uma vida mais simples para que possamos nos aproximar o máximo possível daquilo para o que vivemos: a tal felicidade.

O que eu sinceramente não esperava é que minha tese estivesse tão palpável a ponto de incluir aspectos comportamentais fundamentados em civilizações arcaicas, tão arcaicas que as relações entre homem e mulher devem ser monitoradas por aparelhos alheios à capacidade da razão. Capacidade da razão que, aliás, define o próprio ser humano. Que o distingue, por exemplo, das hienas.

E vejam agora a que ponto chegamos. A linha do ciclo no qual acredito reencontra-se a esta altura dos trágicos acontecimentos com uma espécie de elo perdido. Porque o ser humano, ao discutir a segregação feminina ou, tanto faz, a criação de um chiqueirinho adulto, retorna medonhamente a um tempo em que sua capacidade de expressão não passava de aummmm eaaaummm ouuuuaaa ioooou oooo aaaoooo uaaaaoo...

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