Archive for novembro, 2007

O que Nelson faria hoje? – Texto de Fernando BH

sexta-feira, novembro 23rd, 2007

A vida de Nelson Rodrigues no século 21 seria muito chata. Primeiro, porque iria se irritar com o politicamente correto que predomina hoje. O cigarro, por exemplo, companheiro inseparável do anjo pornográfico: não tem mais o glamour daqueles tempos (recente pesquisa do DataFolha constatou que só 9% dos brasileiros vêem charme nas baforadas). Nelson dedicaria linhas e linhas criticando a patrulha coletiva pela saúde. "Cada um que cuide da sua", vociferaria. (mais…)

Antes ou depois da chuva? – Texto de Lucius de Mello

domingo, novembro 18th, 2007

[…] Porém me conquistar mesmo a ponto de ficar doendo no desejo, só Belém me conquistou assim. Meu único ideal de agora em diante é passar uns meses morando no Grande Hotel de Belém. O direito de sentar naquela terrasse em frente das mangueiras tapando o Teatro da Paz, sentar sem mais nada, chupitando um sorvete de cupuaçu, de açaí, você que conhece o mundo, conhece coisa melhor do que isso, Manu? Me parece impossível. Olha que tenho visto bem coisas estupendas. Vi o Rio em todas as horas e lugares, vi a Tijuca e a Stº Teresa de você, vi a queda da Serra para Santos, vi a tarde de sinoa em Ouro Preto e vejo agorinha mesmo a manhã mais linda do Amazonas. Nada disso que lembro com saudades e que me extasia sempre ver, nada desejo rever como uma precisão absoluta fatalizada do meu organismo inteirinho. [...]
Quero Belém como se quer um amor. É inconcebível o amor que Belém despertou em mim. E como já falei, sentar de linho branco depois da chuva na terrasse do Grande Hotel e tragar sorvete, sem vontade, só para agir.

(Trecho da carta de Mário de Andrade
a Manuel Bandeira, Junho de 1927)

Mário de Andrade viveu uma intensa história de amor com Belém, a capital do Pará. Estar no mercado Ver o Peso, era um dos programas prediletos do poeta paulistano. Lá, onde as palavras e as idéias, em fartura, disputam com os patos, os peixes, os ingredientes da maniçoba, o tucupi, o cupuaçu, o bacuri, o açaí, o artesanato e os curandeiros da floresta, a preferência dos consumidores da subjetividade. Escritores sempre voltam de Belém grávidos. (mais…)

De repente – Texto de Dudu Oliva

domingo, novembro 18th, 2007

DE REPENTE

Através da janela protegida por uma grade e com vidros revestidos de insufilme vejo os pombos voando para lá e para cá; o vento balança os fios dos postes e as folhas das árvores. Um passarinho se equilibra num destes fios ao lado da carcaça de uma pipa. As construções cada vez mais altas não permitem observar o morro, onde antigamente a primeira coisa que eu mirava era o verde intenso. (mais…)

Cruz de ferro – Texto de Otávio Nunes

sábado, novembro 17th, 2007

Nuremberg (Alemanha), 16 de outubro de 1946

O general Hans Fritz Strudelfen acordou cedo naquele dia frio. Sabia que tinha poucas horas de vida até ser chamado ao cadafalso e receber do carrasco o nó da corda no pescoço. A cena imaginada lhe causou repulsa e de modo instintivo levou a mão à nuca e sentiu uma vertigem estranha e uma sensação de completo abandono, aceitando totalmente a fatalidade. (mais…)

Competente – Texto de Otávio Nunes

sexta-feira, novembro 16th, 2007

Não gosto do adjetivo competente. De alguns meses para cá, na verdade,
mais de ano, passei a evitar tal palavra, bem como suas derivadas, preferindo qualificado, capacitado, preparado, apto, experiente, conhecedor… “Ora, não é a mesma coisa”, dirão alguns puristas, que só entendem a palavra no seu sentido individual, de dicionário. Amigos, o sentido da palavra quem dá é o contexto, senhor de tudo. (mais…)

Simples mulheres – Texto de Leonardo Brasiliense

quarta-feira, novembro 14th, 2007

Quando meus filhos foram embora de casa, senti que se foi junto minha maternidade. Voltei a ser apenas esposa, mas o meu marido já me via apenas como “a mãe”. Voltei então a ser filha. Dois meses depois minha mãe morreu de câncer.

E-mail: lbrasiliense@uol.com.br

Belmonte e Amaraí – Texto de João Pedro Feza

terça-feira, novembro 13th, 2007


Diz-se que quando um completa o outro igual feijão com arroz é porque a panela achou a tampa. A combinação perfeita no amor também se aplica a outros tipos de relacionamento. Quando amizade (mesmo que tumultuada) e talento se juntam, está feito o estrago no melhor dos sentidos: a audição. (mais…)

Cenas – Texto de Dudu Oliva

segunda-feira, novembro 5th, 2007

Na janela, uma senhora deixa-se molhar pela chuva.
Com duas bolsas cheias uma jovem corre para a marquise.
Homem briga com outro por causa do carro batido.
Os pombos encolhidos no telhado em um prédio antigo. (mais…)