Archive for setembro, 2008

Incoerências e caras-de-pau

segunda-feira, setembro 29th, 2008

Aos poucos, os candidatos e candidatas a Prefeito do Rio começam literalmente a mostrar a cara e, no momento em que escrevo, alguns deles já se destacam no noticiário. Ou porque nas pesquisas têm índice mais alto de intenção de votos ou porque seus cartazes aparecem mais pelas ruas da cidade. E é aí que entra a incoerência desses candidatos com sua interpretação muito particular sobre o que seja “cuidar da cidade” ou de pensar nela como seus futuros administradores. (mais…)

Combate ao tráfico

sexta-feira, setembro 26th, 2008

Os homens do batalhão de combate ao tráfico vasculharam o pequeno sobrado. O detetor inteligente percorreu cada canto da construção instalada num bairro da chamada neoclasse média, sem nada encontrar. Dentro de seus uniformes de fibra flexível de aço e munidos com as tradicionais pistolas a laser, os soldados apresentaram-se ao comando. A operação fracassara, ao menos até ali, com os métodos legalizados. O Capitão Assíria deu-lhes ordem para descansar, e eles sabiam dos procedimentos a serem adotados a partir daquele momento. (mais…)

Obrigada, poeta

sexta-feira, setembro 19th, 2008


Às vezes acontece. Você precisa desabafar, conversar, trocar umas figurinhas, e aqueles que estão sempre presentes pro que der e vier não estão disponíveis naquele exato momento, por uma razão qualquer. Numa dessas vezes, apelei para ele. Que está sempre lá, sentado no mesmo banco da praia de Copacabana, de pernas cruzadas, um livro no colo e aquele ar meio sério, meio pensativo, como esperando que alguém se sente a seu lado. E foi o que eu fiz. Sentei-me ali, pus meu braço no ombro dele e comecei a conversar. Só não digo que comecei a “nossa” conversa, porque falei muito mais do que ele, que só ouvia, e às vezes – juro! – esboçava um sorrisinho complacente. (mais…)

A hora da morte

terça-feira, setembro 16th, 2008

Contou-me esta história o magistrado Ilídio Fagundes Tourão, digno de um caráter fiduciário à prova de manobras e entrementes aferidos em razoável monta nos meandros do ofício. Por certo, e disso dou fé, não ocorre entre sua altiva história um só processo de que possa ter se saído assim escassamente, nem mesmo este derradeiro, no qual, aliás, meteu-se de jeito. Contou-me esta história o magistrado Ilídio Fagundes Tourão, cujo passamento deu-se às nove horas e um quarto do dia 10 de março último, uma manhã de sol brilhante, como o fora sempre quem ela, discretamente, ali socorria à velhice imposta pela doença e talvez por um sórdido destino. (mais…)

Iniciação – Texto de Leonardo Brasiliense

sábado, setembro 13th, 2008

Era uma caixa d’água virada para baixo, e lá de dentro espiávamos o mundo por um furinho quase de nada. Assim nós sabíamos de tudo. Por exemplo, quando mataram o galo Rico. Os adultos combinaram o assassinato no cochicho. Então o Rico apareceu na mesa do jantar, e nós sabíamos que era ele. Mas não deixamos sobrar nada no prato: mais nos importava manter o esconderijo, porque a prima e eu desconfiávamos, em silêncio, que dali a pouco ele teria outro fim.

E-mail: lbrasiliense@uol.com.br

Fui eu – Texto de Otávio Nunes

quarta-feira, setembro 10th, 2008

Estava eu a comer um pastel na feira de domingo, destes enormes que nos fazem almoçar às quatro da tarde, quando um homem passou por mim e deu-me um papelzinho. Um santinho de candidato. Quando ia jogar no lixo, reparei que a foto no papel era a do próprio homem que entregava. Era ele o candidato. Nunca tinha me acontecido isto antes e acredito que a poucos na cidade. Geralmente, a gente pega santinhos
das mãos de pessoas que trabalham para o político. Mas, das mãos do próprio, era novidade. (mais…)

Cacarecos do meu Brasil – Texto de Otávio Nunes

quarta-feira, setembro 10th, 2008


Em 1958, chegou do Rio de Janeiro o rinoceronte Cacareco (foto ao lado publicada na revista “O Cruzeiro”), uma das atrações da então inauguração do Zoológico de São Paulo. O bicho fez tanto sucesso na Paulicéia que nas eleições municipais do ano seguinte recebeu cerca de 100 mil votos para vereador. Na época, tal enxurrada elegeria quase 10 pessoas. O sufrágio (eta palavra feia, pior que ela só escrutínio!) era na mão. Atualmente, com a urna eletrônica, seria impossível a façanha do chifrudo. (mais…)

Para sempre amigos

terça-feira, setembro 9th, 2008

Na janela ampla da sala de aula via uma árvore seca; dançava e me convidava, eu não podia; tinha uma aula importante, mas continuava observando-a. Escrevi até um conto inspirado nela:

...não quero saber de sua verdade não arrote sua soberba em cima de mim vou embora pego a estrada não quero ouvir vejo a montanha ela me chama não agüento ficar aqui me sinto enclausurado encontre outro aluno tomei ojeriza do que quer me ensinar desejo sentir novamente a água gelada da cachoeira observar a dança do vento com a vegetação da floresta a música que embala é o barulho da cachoeira quero reencontrar Sofia andar de bicicleta comer uma torta gostosa num café cale a boca não quero saber de sua verdade seu nariz empinado me inspira idéias assassinas vou embora vejo a montanha sempre tive curiosidade de escalá-la será que encontrarei duendes e fadas? (mais…)

Irrelevâncias essenciais

segunda-feira, setembro 8th, 2008

Num jornal do sul, li a crônica de Arnaldo Jabor, “A morte tem vida própria”. Sempre intenso e criativo em suas idéias, o cronista fala da inevitável chegada da morte para todos e lamenta a partida de alguns amigos numa só semana. E tenta imaginar-se morto, conjecturando sobre do que ele realmente sentirá falta quando partir. Segundo ele, não será dos megashows nem dos grandes amores, mas do que ele genialmente chama de “irrelevâncias essenciais”. (mais…)

Olimpíada, eleições… a vida continua – Texto de Fernando BH

terça-feira, setembro 2nd, 2008

Para quem não teve a sorte de acompanhar a Olimpíada de Pequim na TV fechada, ver Ana Maria Braga interagindo com a equipe de esportes Globo foi um martírio — a Band, com menos purpurina, pega mal no meu bairro. Mas, sim, houve algo mais desesperador do que a torcedora-comentarista-leiga do cabelo loiro. Galvão Bueno e sua eterna mania de achar que o brasileiro vai se jogar da ponte por causa de uma derrota. Após a prata do vôlei masculino, ele se saiu com essa, depois de tantos choramingos e justificativas (como se o time de Bernardinho ainda tivesse que provar alguma coisa): "Amanhã Felipe Massa é pole position!". Quase joguei o controle na TV. (mais…)