Vítimas do trem noturno

maio 22nd, 2016

Só mais dez minutos, eu disse baixinho sem quase mover os lábios para que eles não me ouvissem. Apesar de tudo, eu tentava mostrar naturalidade. Juliana apertava tão forte minha mão que chegava doer. Read the rest of this entry »

Das 20h às 23h28

março 17th, 2016

Chupa, Lula! Às oito horas, gritaram lá embaixo no momento em que fechei o vidro do nono, pendurei a bolsa no ombro direito (procedimento que se não me engano está começando a me dar dor nas costas) e desci a pé os quase duzentos degraus (alivia um pouco o peso da consciência), dei boa noite ao guarda-noturno que sempre me diz bom descanso pro senhor (pro senhor!), ganhei a calçada e dei de cara com dois caras, um negro alto e um branco baixo, ambos parados ouvindo algo no celular, que logo percebi como sendo a tal gravação Lula/Dilma. Read the rest of this entry »

O viúvo influenciável e a puta velha de García Márquez

fevereiro 19th, 2016

Leu o conto de García Márquez sobre a puta velha que treina o cachorrinho para chorar em seu túmulo porque acha que vai morrer, e naquela mesma noite sonhou com uma impressionante tristeza jamais sentida. Estava em pé num lugar incerto e vazio, cercado pela escuridão, de onde ouvia latidos vagos que imaginava ser do cãozinho vira-lata com quem havia dez anos dividia seu apartamento de viúvo. Influenciável que era, acordou certo de sua própria morte. Read the rest of this entry »

Personagens de Natal

dezembro 13th, 2015

Meus personagens são tão singelos que dá até vergonha.
Um é uma cadelinha vira-lata. Outro é uma mulher que não conheço. Os dois, a esmo, eu os encontrei na rua. Rua Tabapuã.
Disse-me ela, de cabelos desgrenhados: somos só eu e ela.
Eu parei.
Escurecia e garoava às cinco e pouco. São Paulo garoa a toda hora. Read the rest of this entry »

Sobre Mariana e Paris

novembro 14th, 2015

Descascávamos as laranjas miúdas e doces, e as cascas desprendendo sumo que impregnava as mãos e os braços caíam sobre o capim, onde aos poucos, e com o passar dos dias, misturavam-se ao solo, talvez alimentando suas raízes ou apenas fundindo-se naturalmente com a história de seu bioma, por assim dizer, num sexo elementar em que a terra imemorial penetra o vegetal úmido, ou vice-versa, tanto faz Read the rest of this entry »

Observatório do impossível

outubro 14th, 2015

Daguerreótipo de 1841 C: Divulgação

É no mínimo estranha a sensação de olhar para si mesmo de fora, como se você fizesse parte da lista de personagens de um relato de ficção, como se você, por menos importante que tenha sido seu próprio passado, pudesse bisbilhotar seu próprio passado, pudesse bisbilhotá-lo através do olhar de um terceiro. Read the rest of this entry »

Show particular

outubro 6th, 2015

Pensou assim: como é que pode alguém dizer tanta coisa bonita? Ah, a desigualdade é real, e como é! Percebeu que ele apertava sua mão e aos poucos a levava para pousar sobre sua coxa esquerda, sentiu aquele arrepio de sempre na nuca, um arrepio que, feito cólica de rim, você não sabe direito onde está, sabe? Toma você inteira, não dá tempo de concluir sobre origens e consequências, é só mesmo o rompante do fenômeno. E pronto. Pra que explicar? Read the rest of this entry »

Como a gente, não tinha igual

setembro 29th, 2015

Antes que Lola lhe dissesse qualquer palavra, ele compreendeu. Não sabe explicar se foi pura intuição, se foi o resultado de reflexos apreendidos da fisionomia pesada da mensageira ou, até, se foi algo tão previsível que ele próprio já sabia antes mesmo que acontecesse. Num ato de desespero, tentou reconstruir os últimos dias, talvez para enfiar-se num melodrama capaz de esvaziá-lo da angústia que subiu pela garganta feito um arroto amargo. Read the rest of this entry »

Vivendo e (não) aprendendo a jogar

agosto 1st, 2015

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Estou aprendendo a andar de metrô em São Paulo.

Já sei que, ao subir a escada rolante, devo ficar à direita, permitindo assim a passagem pela esquerda de quem está com pressa. Minha filha me ensinou na semana passada. Aliás, deixar se conduzir, preguiçosamente, por alguém (no meu caso, pela minha filha) tem seu preço. Paguei hoje. Vergonhosamente, não sabia onde enfiar o bilhete na catraca. Sorte que bem atrás vinha uma moça simpática e me mostrou (claro, deve ter pensado Que babaca ou algo assim). Read the rest of this entry »

Um inesperado (e misterioso) reencontro

julho 29th, 2015

Moça de chapéu preto

Eu sinceramente nem lembrava mais.

Uma noite, talvez uns dez anos atrás, fui transportado para um povoado distante. As casas tinham telhados com extensas caídas, como em chalés de inverno, as ruas eram estreitas e o calçamento, rústico. Diante de uma das habitações, pessoas se aglomeravam e faziam gestos cautelosos, as vozes não passavam de cochichos, talvez assustados, ao menos era essa a impressão que eu tinha no sonho.

Com passos lentos e hesitantes, eu me aproximei e me enfiei entre a pequena multidão. Read the rest of this entry »