Para sempre amigos

Na janela ampla da sala de aula via uma árvore seca; dançava e me convidava, eu não podia; tinha uma aula importante, mas continuava observando-a. Escrevi até um conto inspirado nela:

...não quero saber de sua verdade não arrote sua soberba em cima de mim vou embora pego a estrada não quero ouvir vejo a montanha ela me chama não agüento ficar aqui me sinto enclausurado encontre outro aluno tomei ojeriza do que quer me ensinar desejo sentir novamente a água gelada da cachoeira observar a dança do vento com a vegetação da floresta a música que embala é o barulho da cachoeira quero reencontrar Sofia andar de bicicleta comer uma torta gostosa num café cale a boca não quero saber de sua verdade seu nariz empinado me inspira idéias assassinas vou embora vejo a montanha sempre tive curiosidade de escalá-la será que encontrarei duendes e fadas? Há uma lenda de que um poeta apaixonou-se por uma fada e subiu à montanha nunca ninguém mais o encontrou Sofia você é uma fada? vou embora cale a boca não quero saber de sua verdade...

Às vezes, a voz do professor estava longe e precisava enfiar a ponta do lápis na palma da mão, para retornar à aula. O campus era perto da Baía, se fosse limpa mergulharia em suas águas negras e convidaria a árvore-seca-dançarina a nadar comigo. Comentei com uma colega, que se afastou de mim, disse a todos que sou louco. Meus pais me forçaram a ir ao psicólogo. Fui, seu nome era Marinilda Maria, dizia que já viu gnomos e até fez piquenique com eles; combinamos lanchar no campus.

Os gnomos apareceram e apesar da minha amiga árvore ser um pouco tímida, veio. Conversávamos sobre tudo. Marinilda levantou a blusa e revelou que desejava colocar silicone; todos nós concordamos que não precisava, seus seios eram lindos. Ela ficou feliz, mas reafirmou que iria operar; minha amiga confessou que queria botar seios grandes também e Marinilda a apoiou; os gnomos disseram que ia ficar mais bela. Eu concordei meio em dúvida, realmente, uma árvore com seios ficaria muito estranho para mim.

Um dia, Marinilda Maria desapareceu. O maldito pai psiquiatra a internou e a deixou boba, por causa dos choques na cabeça. Ligou para os meus pais para fazer a mesma coisa comigo. Fugi com a árvore-seca-dançarina e os gnomos.

Viramos mambembes e desbravaremos todos os cantos da América latina.

E-mail: dudu.oliva@uol.com.br

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