Archive for the ‘Contos’ Category

Quando morrem as pedras

terça-feira, fevereiro 10th, 2015

Leu num pé de página qualquer, com o corpo dobrado em cima do balcão engordurado da padaria; leu e na mesma hora sentiu com certo assombro um tipo de chamamento ou, como ela costumava dizer sempre que era afetada por acontecimentos inesperados, teve uma palpitação, Tutinha, mas uma palpitação que só vendo! (mais…)

Carnaval

quinta-feira, janeiro 29th, 2015

O braço apoiado sobre a mesa da cozinha, sob o cotovelo as migalhas do sanduíche do jantar, a fumaça do cigarro nasce devagar na boca, os lábios queimam com a raiva conhecida e indesejada, “vem comigo, vem?", a cintura colada na pia, mais um prato sujo amontoado com copos, guardanapos caídos por engano, um fundo de água com espuma amanhecida de detergente.

- Quis ir, foda-se. (mais…)

Conto erótico de Natal

quinta-feira, dezembro 4th, 2014

Os dois juntos, sozinhos em casa, tiramos a medida. Enquanto eu segurava, ela esticava a fita métrica. Dezesseis centímetros, das bolas à pontinha. Não era gigante, mas estava acima da média, ao menos segundo uma revista que tínhamos lido. Era finzinho de tarde. Uma tarde que passamos na piscina. Ela ainda vestia aquele biquíni. (mais…)

Combate ao tráfico (conto escrito em 2008)

terça-feira, dezembro 2nd, 2014

Os homens do batalhão de combate ao tráfico vasculharam o pequeno sobrado. O detetor inteligente percorreu cada canto da construção instalada num bairro da chamada neoclasse média, sem nada encontrar. Dentro de seus uniformes de fibra flexível de aço e munidos com as tradicionais pistolas a laser, os soldados apresentaram-se ao comando. A operação fracassara, ao menos até ali, com os métodos legalizados. O Capitão Assíria deu-lhes ordem para descansar, e eles sabiam dos procedimentos a serem adotados a partir daquele momento. (mais…)

Questão glútea

sábado, novembro 22nd, 2014

Nem mesmo as duas ligações telefônicas atendidas simultaneamente foram suficientes para impedir-me o espanto e logo, a curiosidade. Dona Henrica havia marcado a consulta jurídica há dois dias, ligara na véspera e naquela manhã também, antes de dirigir-se ao escritório onde advogo. Havia uma extrema ansiedade em seu rosto quando a secretária, descumprindo uma ordem expressa de minha parte, enfiou-a subitamente sala adentro. Minha surpresa, entretanto, não residiu em sua expressão, mas na parte do corpo que separa as costas das pernas, ou seja, a região glútea. (mais…)

Um fantasma para Maria

quarta-feira, outubro 22nd, 2014

Como começou eu não sei direito. Sei só como acabou. Maria, na frente, com a criança no colo, protegendo-se da poeira avermelhadona das ruas todas de terra. Ali o asfalto era coisa de rodovia. Eu, ao lado, caminhava latejando felicidade. Atrás da gente, a uns poucos passos, vinha sempre o Arnaldo, inteiro bêbedo, meio caído. Tínhamos, dali a pouco, o batizado coletivo. (mais…)

Dona Deusinha

terça-feira, abril 1st, 2014

A fumaça entope o ar. Na plataforma 12, encosta a primeira linha do litoral. A tampa do bagageiro range até travar com o solavanco do Borges. O cobrador já manda as malas ao chão. No acesso pela avenida, aponta o carro que desce de Belo Horizonte, enquanto os passageiros que vieram da praia seguem em fila nervosa que se estende até às bagagens. Bem ao lado, o bêbado dá a última cusparada antes de voltar ao sono inquieto, resmungando o que nunca se entende. O de Minas encosta. Desce o Mathias com h. Este é mais cuidadoso: espera pelos viajantes antes de distribuir os pertences. Ao contrário do Borges, acena e até canta um bom-dia sincero. Ela responde. Ela sempre responde a todos eles. (mais…)

A sala dos sonhos

sexta-feira, março 7th, 2014

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Meus sonhos são impressionantes.

Esta noite sonhei, em seguida, que (1º) meu pai, já bastante velho e doente, havia recuperado a saúde repentinamente e estava brigando com minha mãe para ficar com um homem, e (2º) eu estava tão próximo de uma garota por quem fui apaixonado que tentei beijá-la, mas não pudemos concluir a operação porque nossas bocas estavam cheias de poeira, os dentes rangiam com aquelas partículas de areia.

Estes e outros sonhos estavam caindo à mesa, contados por cinco ou seis pessoas. (mais…)

Um fiapo de sangue escorre na solidão da noite

quinta-feira, março 6th, 2014

Atrás do balcão, o dono do pequeno café sente uma certa tensão ao observar o cliente da mesa cinco. Está sentado ereto, como alguém treinado a manter-se em posição adequada para preservar a coluna, a cabeça levemente voltada à esquerda, para a rua, onde uma chuva leve faz os poucos pedestres se protegerem sob os toldos. Tem meia idade, no máximo cinquenta anos. Um sobretudo cáqui incha-o além da conta. Os óculos às vezes embaçam, mas ele não os tira. O estabelecimento já se encontra vazio a esta altura. Passa um pouco das onze da noite. (mais…)

Beijo de moça

quinta-feira, fevereiro 20th, 2014

Na primeira vez, ela desceu os dois lances de escadas vestindo jeans e blusa branca colada à pele, um fio moreno claro de cintura à mostra. Nos pés, um salto médio. Pendurava bolsa a tiracolo. Abriu o portão, foi para a rua. Até dobrar a esquina, trinta e cinco passos, contados. Esperei. (mais…)