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Fui eu – Texto de Otávio Nunes

quarta-feira, setembro 10th, 2008

Estava eu a comer um pastel na feira de domingo, destes enormes que nos fazem almoçar às quatro da tarde, quando um homem passou por mim e deu-me um papelzinho. Um santinho de candidato. Quando ia jogar no lixo, reparei que a foto no papel era a do próprio homem que entregava. Era ele o candidato. Nunca tinha me acontecido isto antes e acredito que a poucos na cidade. Geralmente, a gente pega santinhos
das mãos de pessoas que trabalham para o político. Mas, das mãos do próprio, era novidade. (mais…)

Cacarecos do meu Brasil – Texto de Otávio Nunes

quarta-feira, setembro 10th, 2008


Em 1958, chegou do Rio de Janeiro o rinoceronte Cacareco (foto ao lado publicada na revista “O Cruzeiro”), uma das atrações da então inauguração do Zoológico de São Paulo. O bicho fez tanto sucesso na Paulicéia que nas eleições municipais do ano seguinte recebeu cerca de 100 mil votos para vereador. Na época, tal enxurrada elegeria quase 10 pessoas. O sufrágio (eta palavra feia, pior que ela só escrutínio!) era na mão. Atualmente, com a urna eletrônica, seria impossível a façanha do chifrudo. (mais…)

A organização – Texto de Otávio Nunes

segunda-feira, agosto 11th, 2008

Grenólio sentou-se na cadeira ao lado de um amigo e se posicionou bem
para ouvir o seu líder fazer o primeiro discurso da organização
recém-fundada. O presidente exaltou a união entre os membros e a
necessidade de a entidade se expandir para poder pleitear mais
benesses. "Só o crescimento nos dará maior importância e poder." (mais…)

A volta e a volta – Texto de Otávio Nunes

sábado, julho 12th, 2008

Teresa acordou e olhou para o filho Claudinho, que dormia na cama ao
lado, impunemente, como um pássaro no ninho. Dali a pouco teria de
acordá-lo para ir à escola que ficava no caminho entre sua casa e o
trabalho. (mais…)

Sombra de dúvida – Texto de Otávio Nunes

sexta-feira, junho 13th, 2008

Sinto você cada vez mais distante, indiferente, apressada. Evita-me a
todo momento. Não me chama mais de benhê, querido, fofo, meu gordinho
e outras formas carinhosas pelas quais me tratava nos primeiros anos
de nosso casamento. Fugidia a todo momento, escorrega de meus carinhos
até mesmo na hora de a gente dormir. (mais…)

A bananeira – Texto de Otávio Nunes

segunda-feira, abril 14th, 2008

“Marimbondo, vem fazer sua casa em minhasa za-za-za. Sai azar
marimbondo. Vem fazer no teto o que é correto. Eu já sou torto, solto
e louco e não posso te morar. Ah, ah. Ou vá curtir a bananeira, que
tem eira, eira, eira. E eu não tenho eira, nem beira, não. Não tenho
eira nem beira.”

(versos da música Marimbondo, de Marlui Miranda e Xico Chaves, gravada
por Sá e Guarabira, num maravilhoso arranjo de cordas, no célebre
disco Pirão de Peixe com Pimenta, onde está a famosa Sobradinho)

Capítulo I

Jonas se encaminhou ao fundo de sua chácara para a inspeção diária de
sua horta. Reparou que os canteiros de almeirão e rúcula já estavam
prontos para a colheita. Embaixo das árvores, à margem do rio,
vislumbrou as taiobas, verdinhas, também crescendo rapidamente devido
às chuvas da época. (mais…)

Maria Três Destinos – Texto de Otávio Nunes

sábado, março 15th, 2008

“Maria, Maria, quem traz na pele essa marca
possui a estranha mania de
ter fé na vida”

(Milton Nascimento e Fernando Brant)

Maria Aurelina levanta cedo, faz o café, vai à padaria comprar pães,
acorda as crianças para ir à escola e prepara o café com leite delas.
Despede-se dos filhos e se encaminha ao tanque, onde quilos de roupa
suja a esperam. Na hora do almoço, refoga dois copos de arroz, pega na
geladeira a vasilha com o feijão cozido no dia anterior, frita um ovo
e come sozinha, na mesa da cozinha. (mais…)

Papai Noel de saco cheio – Texto de Otávio Nunes

terça-feira, dezembro 18th, 2007

Prezado Papai Noel Maior, chefe de todos os papais noéis do mundo,
morador perpétuo da distante e gélida Lapônia, desculpe-me por ocupar
parte de seu tempo, cada vez mais exíguo, principalmente às portas do
Natal. Quem escreve à sua magnânima pessoa é o seu subalterno, o Papai
Noel do Brasil. (mais…)

Segundamente – Texto de Otávio Nunes

sábado, dezembro 15th, 2007

Não sei o motivo, mas a cada domingo fico mais tenso à espera do
próximo dia, a segunda. Minha esposa atual, a segunda, vem para mim e questiona meus atos. Diz que tudo que faço tem segunda intenção, o que me deixa muito magoado. Quando vamos passear nos fins de semana, então, ela me conta que passa vergonha dentro do meu carro velho e me questiona com veemência se um dia vou comprar um zero-quilômetro em vez de outro, de segunda mão. (mais…)

Cruz de ferro – Texto de Otávio Nunes

sábado, novembro 17th, 2007

Nuremberg (Alemanha), 16 de outubro de 1946

O general Hans Fritz Strudelfen acordou cedo naquele dia frio. Sabia que tinha poucas horas de vida até ser chamado ao cadafalso e receber do carrasco o nó da corda no pescoço. A cena imaginada lhe causou repulsa e de modo instintivo levou a mão à nuca e sentiu uma vertigem estranha e uma sensação de completo abandono, aceitando totalmente a fatalidade. (mais…)