Posts Tagged ‘Miniconto’

Intuição

quinta-feira, setembro 24th, 2009

O poeta escrevia versos e mais versos à amada. Ela desfrutava a estética das composições, porém não conseguia emocionar-se. Um dia, encontrou um artesão que lhe deu uma pequena caixa. Depois de entregá-la disse: “ Para você guardar os sonhos e as lembranças boas”. Ficou surpresa com a descoberta de que qualquer pessoa com sensibilidade pode fazer um poema sem intenção, mesmo simples gestos, sem palavras.

E-mail: dudu.oliva@uol.com.br

Dois minicontos de Leonardo Brasiliense

sábado, setembro 5th, 2009

Quando cai o barranco
Esticada a corda, saiu um homem do meio do barro. Assustado, perguntou as horas, agradeceu o resgate, arrumou o cabelo e foi embora correndo. Dos outros, só vieram corpos, sem pressa. (mais…)

Consequência de um ato imaturo

quarta-feira, agosto 12th, 2009

Ficava com vergonha quando alguém transformava suas idéias em pó e ele nem tinha a capacidade de salvá-las. Decidiu não mais comentar sobre elas, pois cada vez que não tinha palavras para debater, sentia-se despido. Com a cabeça a explodir resolveu viajar para um lugar ermo e derramou, através da escrita, todos os pensamentos. Quando retornou para cidade, estranhou uma quantidade enorme de letras enlameadas espalhadas por todo canto. Ouviu notícias de que a cidade sofrera uma enchente de palavras.

E-mail: dudu.oliva@uol.com.br

Dois minicontos de Ana Flores

terça-feira, agosto 4th, 2009

Afresco

Antes de pintar o apartamento para devolvê-lo ao senhorio, ela o chamou em casa e perguntou-lhe se gostaria de manter a poesia que ela escrevera numa das paredes da sala. Ele a leu várias vezes, caiu de amores, mudou-se para lá e manteve para sempre a poesia e a autora. (mais…)

Solidão – Texto de Leonardo Brasiliense

terça-feira, julho 14th, 2009

Abri o livro e caiu dele uma flor seca. A julgar pelo tamanho das outras, faltavam duas pétalas. Que sofrimento levaria alguém a desistir no mal-me-quer e sepultar esse destino num livro velho da Biblioteca Pública? Me deu vontade de olhar o nome na ficha de retiradas, talvez procurá-lo. (mais…)

Relato

sexta-feira, julho 10th, 2009

Viajando, por muitos lugares, encontrei uma sociedade que vive a
ditadura barulhenta. Todos são obrigados a falar e a expor suas
idéias. Quem imerge no silêncio e se retira da cidade é preso em um
campo de concentração. Lá, sofrem um penoso processo de reeducação.

E-mail: dudu.oliva@uol.com.br

Às primeiras horas da manhã

segunda-feira, julho 6th, 2009

A varrição lá fora o acorda. Está dolorido, mas insiste em sair do quarto. A irmã, mancando e cheia de hematomas no rosto, lhe prepara o café. Os pais com feridas profundas fazem a coleta do que ainda serve. Foi tudo muito rápido; homens invadiram a vila e praticaram vários tipos de barbaridades. (mais…)

Intolerância

quinta-feira, junho 4th, 2009

Seduza todas as mulheres que você desejar, Confunda-me com as desculpas mais esfarrapadas que sua imaginação criar, Convença-me de que o que eu estou vendo não é nada disso que eu estou pensando, Passe em branco o aniversário do nosso namoro, Ignore os bilhetinhos de amor que deixo na porta da geladeira para você. Mas nunca mais – ouviu bem? – nunca mais em sua vida recuse provar meu manjar de coco com calda de damasco. Isso eu não vou perdoar.

E-mail: anaflores.rj@terra.com.br

A mãe do Silvinho – Texto de Leonardo Brasiliense

segunda-feira, maio 25th, 2009

Ela disse que o meu amiguinho não estava em casa mas me mandou entrar. Disse que gostava de mim porque eu era comportadinho e que ela queria conversar comigo um pouquinho. Me levou para o quarto e disse vem, senta aqui no meu colinho...

Me deu um tapão na cabeça porque a chamei de tia.

E-mail: lbrasiliense@uol.com.br

Cartão-ponto – Texto de Leonardo Brasiliense

domingo, maio 17th, 2009

Matou numa virada o martelinho de pinga. Bebia com raiva. “Corno”, pensou, e pediu outra dose. A úlcera queimava. Olhou no relógio e faltava meia hora para poder chegar em casa. Pôs a mão na boca-do-estômago: “Essa mulher ainda me mata”.

E-mail: lbrasiliense@uol.com.br