Posts Tagged ‘Leonardo Brasiliense’

Cartão-ponto – Texto de Leonardo Brasiliense

domingo, maio 17th, 2009

Matou numa virada o martelinho de pinga. Bebia com raiva. “Corno”, pensou, e pediu outra dose. A úlcera queimava. Olhou no relógio e faltava meia hora para poder chegar em casa. Pôs a mão na boca-do-estômago: “Essa mulher ainda me mata”.

E-mail: lbrasiliense@uol.com.br

Fotografia número 1 – Texto de Leonardo Brasiliense

domingo, março 8th, 2009

É noite, e o ar da estação, amarelo. Ao fundo, o trem parado. Na gare há somente um casal de velhos sentados numa grande mala. Um baú atrás. Olham baixo, imóveis. Dali a dois metros as formigas carregam sobras de um inseto morto.

E-mail: lbrasiliense@uol.com.br

Flash! – Texto de Leonardo Brasiliense

quinta-feira, fevereiro 26th, 2009

O porta-retratos tem uma vinheta banhada a ouro sobre madeira lisa. 21 x 14 cm. A fotografia colorida não engana: não era bonita nem feia, a mulher de testa pequena, sobrancelhas grossas, olhos difíceis de interpretar. Tinha ali uns trinta anos, morreu aos quarenta e dois. (mais…)

Herói de guerra – Texto de Leonardo Brasiliense

sábado, janeiro 31st, 2009

Treinou tiro de fuzil, pistola, bazuca. Arrastou-se no chão, atravessou rios, escalou paredões. Sabia obedecer às ordens e entendia de pronto as estratégias superiores. Na trincheira, morreu de frio.

E-mail: lbrasiliense@uol.com.br

Futuro presente – Texto de Leonardo Brasiliense

sábado, outubro 18th, 2008

Ao pular ágil da cama no primeiro toque do despertador, João Alfredo de Moura e Andrade, pai de família exemplar, filho dedicado, amigo fiel, colega solícito, não tinha como adivinhar o que estava para acontecer naquele dia. Se pudesse, talvez não se levantasse, nem saísse de casa. Seria prudente? Covarde? A solução? Mas levantou, escovou os dentes, tomou café com leite, foi para o trabalho. Tudo bem, não havia como, era impossível prever, não há como culpá-lo. Porque não aconteceu nada. Como sempre.

E-mail: lbrasiliense@uol.com.br

Iniciação – Texto de Leonardo Brasiliense

sábado, setembro 13th, 2008

Era uma caixa d’água virada para baixo, e lá de dentro espiávamos o mundo por um furinho quase de nada. Assim nós sabíamos de tudo. Por exemplo, quando mataram o galo Rico. Os adultos combinaram o assassinato no cochicho. Então o Rico apareceu na mesa do jantar, e nós sabíamos que era ele. Mas não deixamos sobrar nada no prato: mais nos importava manter o esconderijo, porque a prima e eu desconfiávamos, em silêncio, que dali a pouco ele teria outro fim.

E-mail: lbrasiliense@uol.com.br

O gato

sábado, outubro 7th, 2006

Edgar Allan Poe tem em seu O gato preto um dos mais famosos contos de sua deliciosa e poética literatura de terror. Há um escritor no sul, no Rio Grande, que se diz apaixonado, assim como sua mulher também o é, pelos felinos; eles têm em casa uma siamesa. Mas, você talvez me pergunte bem agora: e daí? Pois, narro a seguir uma coincidência interessante. (mais…)