O gato

Edgar Allan Poe tem em seu O gato preto um dos mais famosos contos de sua deliciosa e poética literatura de terror. Há um escritor no sul, no Rio Grande, que se diz apaixonado, assim como sua mulher também o é, pelos felinos; eles têm em casa uma siamesa. Mas, você talvez me pergunte bem agora: e daí? Pois, narro a seguir uma coincidência interessante.

Estou por estes dias lendo um livro de contos de Poe, que traz inclusive o do gato preto. Também por estes dias conheço o escritor gaúcho - Leonardo Brasiliense, o mesmo que gosta de gatos. E ainda outra noite, retornando de uma viagem, a rodovia cercada de diminutas florestas, deparo-me com dois pequenos faróis brilhantes na escuridão. Reduzo a velocidade, intrigado e ansioso, e lá está, adentrando a pista, como quem passeia em meio a troncos, ramos e raízes da selva, um certo gato do mato, muito grande o bicho.

Eu enfio a mão na buzina, assustado com a possibilidade de atropelá-lo, e ele, serenamente, sem sobressaltos, despido de atitudes humilhantes de pobres animais que se sacodem diante do perigo, retrocede numa meia volta cerimoniosa, desaparecendo por entre os arbustos como um rei que se retira diante da corte abobalhada.

Engraçado. Gatos, pretos ou não, sempre estiveram envolvidos em nebulosas atmosferas supersticiosas, geralmente dignitários nos reinos imaginários do azar, não é isso mesmo? Curiosamente, a mim, verteram fartura de sorte. Assim: ler Poe é estimulante; conhecer Leonardo Brasiliense foi-me uma felicidade; e ver o gato do mato, livre e belo nestes tempos de subtração, avivou-me a alma.

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