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Bem-vindo a bordo – Texto de Lucius de Mello

quarta-feira, fevereiro 6th, 2008

“Tenciono passar muito tempo na fazenda assim que

chegar e espero na volta para cá trazer muito assunto

brasileiro. (…) Não pensem que essa tendência

brasileira em arte é mal vista aqui. Pelo contrário.

O que se quer é que cada um traga contribuição de seu

próprio país. Assim se explicam o sucesso dos bailados

russos, das gravuras japonesas e da música negra.

Paris está farta da arte parisiense.”

Tarsila do Amaral, dezembro de 1923.

Você tem fome de Arte? Então não deixe de provar deste prato: Tarsila do Amaral. A musa do modernismo e uma das criadoras do movimento antropofágico pode ser saboreada com tâmaras e temperos turcos, iguarias do oriente, receitas francesas, condimentos típicos das Minas Gerais e, claro, especiarias irresistíveis típicas do cardápio caipira. Afinal, Tarsila nasceu na fazenda São Bernardo, em Capivari, interior paulista, no dia 1o de setembro de 1886. (mais…)

Literatura e genocídio – Texto de Lucius de Mello

segunda-feira, janeiro 7th, 2008

Literatura é destaque em Encontro Internacional sobre Genocídio em Buenos Aires

“O universo é um grande livro”.
Lin Yutang
Escritor chinês
(1895/1976)

2007 já se foi, mas eu gostaria de registrar, neste espaço, um dos momentos mais importantes que o generoso ano passado proporcionou à minha carreira de escritor e investigador histórico e também à humanidade. Estava em Buenos Aires para participar do Segundo Encontro Internacional - Análises das Práticas Sociais Genocidas. Fui com a equipe de pesquisadores do LEER – Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação, ligado ao Departamento de História da Universidade de São Paulo. (mais…)

Antes ou depois da chuva? – Texto de Lucius de Mello

domingo, novembro 18th, 2007

[…] Porém me conquistar mesmo a ponto de ficar doendo no desejo, só Belém me conquistou assim. Meu único ideal de agora em diante é passar uns meses morando no Grande Hotel de Belém. O direito de sentar naquela terrasse em frente das mangueiras tapando o Teatro da Paz, sentar sem mais nada, chupitando um sorvete de cupuaçu, de açaí, você que conhece o mundo, conhece coisa melhor do que isso, Manu? Me parece impossível. Olha que tenho visto bem coisas estupendas. Vi o Rio em todas as horas e lugares, vi a Tijuca e a Stº Teresa de você, vi a queda da Serra para Santos, vi a tarde de sinoa em Ouro Preto e vejo agorinha mesmo a manhã mais linda do Amazonas. Nada disso que lembro com saudades e que me extasia sempre ver, nada desejo rever como uma precisão absoluta fatalizada do meu organismo inteirinho. [...]
Quero Belém como se quer um amor. É inconcebível o amor que Belém despertou em mim. E como já falei, sentar de linho branco depois da chuva na terrasse do Grande Hotel e tragar sorvete, sem vontade, só para agir.

(Trecho da carta de Mário de Andrade
a Manuel Bandeira, Junho de 1927)

Mário de Andrade viveu uma intensa história de amor com Belém, a capital do Pará. Estar no mercado Ver o Peso, era um dos programas prediletos do poeta paulistano. Lá, onde as palavras e as idéias, em fartura, disputam com os patos, os peixes, os ingredientes da maniçoba, o tucupi, o cupuaçu, o bacuri, o açaí, o artesanato e os curandeiros da floresta, a preferência dos consumidores da subjetividade. Escritores sempre voltam de Belém grávidos. (mais…)

Lygia e o cuco das horas nuas

terça-feira, setembro 25th, 2007

A homenagem de Antonio Candido, Lygia Fagundes Telles e Roberto Schwarz a Paulo Emílio Sales Gomes.

De tudo fica um pouco.
Não muito.

Carlos Drummond de Andrade

Antonio Candido, Lygia Fagundes Telles e Roberto Schwarz. Nem preciso dizer que foi um raro privilégio ver este encontro ao vivo e, principalmente, ouvir os três numa mesma noite. Estavam ali, sentados à mesa, no palco do auditório da cinemateca de São Paulo, para homenagear o criador do ensaio crítico cinematográfico brasileiro, Paulo Emílio Sales Gomes. Estavam ali, conversando como se tivessem na varanda da casa de um deles, bebendo vinho e jogando conversa fora. (mais…)

A conferência das baratas – Texto de Lucius de Mello

segunda-feira, julho 30th, 2007


“A família é a instituição mais
misteriosa do universo.
E nesse lar, ao invés do astronauta
eu prefiro ser a mosca na parede.”

Amós Oz

Encontrar insetos em praças públicas não é nada difícil no Brasil. Mas o que o público da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty – encontrou este ano na praça da Matriz, na cidade do litoral fluminense, não era qualquer um. Era a mais famosa barata do mundo. A que fez García Márquez decidir que seria escritor na vida e escrever Cem Anos de Solidão. Fantástica. Imensa. Enigmática. Estava lá enrolada numa coberta deitada sobre uma cama. Uma barata no divã? Talvez fosse mais um freudiano analista de papel machê generoso com os curiosos que paravam. (mais…)

Jesus Cristo, os livros estão aqui – Texto de Lucius de Mello

domingo, maio 20th, 2007

Se a fogueira for mesmo o destino dos 10.700 exemplares da biografia Roberto Carlos em Detalhes, recolhidos nesta primeira semana de maio por ordem da justiça, do galpão da editora Planeta, não posso deixar de pensar que, infelizmente, o Brasil também chegou em frente ao portão do Estado totalitário imaginado pelo autor americano Ray Bradbury, em 1966, quando escreveu Fahrenheit 451. Não só chegou ao portão, como também passou por ele para pôr em prática o que no Oriente Médio já é comum e que entre nós ainda era apenas uma história de ficção científica. (mais…)