Borboleta

I
Egídio olhou demoradamente para a frase em letras garrafais do cartaz colado à parede, bem ao lado do balcão onde a atendente havia anotado seus dados: “Bullying, essa brincadeira mata!”. Na mesma hora decidiu grafitar sobre o tema. A ideia caiu-lhe inteira, de uma vez só: o muro, as cores, o movimento, uma borboleta rajada vítima da pecha do mau agouro, dessas enormes, levando uma cruel vassourada. Quase se levantou e correu pegar o spray, chegou mesmo a iniciar o movimento do corpo, mas conseguiu controlar-se a tempo. Vinha melhorando aos poucos nesse aspecto, a ansiedade brutal que o levava a atos inconsequentes vencia-o agora apenas em momentos extremos, e mesmo assim ele passara a ter consciência de sua fraqueza ocasional e imediatamente dispunha-se a combatê-la mentalmente. Estava satisfeito consigo mesmo após a iniciativa de buscar ajuda profissional, sentia-se confiante. A atendente chamou-o e entregou-lhe um papel que incluía dia e horário do atendimento dali a uma semana. Sorriu ao ver que não precisaria esperar tanto tempo como no pronto-socorro. Agradeceu e saiu, e foi incrível como tudo parecia estar indo bem, pois na escadinha da casa onde funcionava a ONG ele quase tropeçou em Elisa.

Também tinha sido assim quando a conheceu. E também numa escada. A da escola. Em meio a alunos entrando e saindo, um arame de seu caderno espiral enroscou-se na alça da bolsa colorida daquela garota sorridente da sétima série. Levaram um bom tempo para livrar-se da cena patética, e para dizer a verdade Egídio não fez qualquer esforço para abreviá-la, em parte porque teve dificuldade de coordenar os próprios movimentos, mas também por ter se sentido estranhamente envolvido pela proximidade de Elisa. Primeiro achou que fosse seu cheiro levemente adocicado que o remetia à ideia confusa de uma infância idealizada em sonhos, depois teve a impressão de um prazer desconhecido ao sentir os cabelos cacheados raspando-lhe a pele do rosto à medida que o vento soprava, e por fim teve a certeza de que poderia seguir ali, tão perto de Elisa, apenas para absorver sua temperatura, aquela tepidez de borboleta ao sol numa manhã de outono. No fim, Elisa safou-se divertida do pequeno incidente e deixou-o no quinto degrau feito um busto mal construído. No dia seguinte, sem que a princípio Egídio tivesse notado, começou o inferno. Ele era distraído por natureza e aquela circunstância da escada fizera-o mergulhar numa névoa ainda mais densa, enfeitada por sonhos juvenis de uma pureza que chegava a doer. Durante a tarde, no entanto, foi inevitável assimilar o golpe que começou com palavras soltas, depois frases acintosas e, por fim, a grotesca ameaça física.

Agora, mais boquiaberto que na escada da escola, e ainda com o papel do agendamento de sua consulta na mão, esticou o braço como se estivesse fazendo uma acusação, demorou a balbuciar “Elisa”, num misto de susto e interrogação. Ela apertou as pálpebras contra o sol e por um momento parecia não reconhecê-lo, mas logo seu semblante amoleceu.

“Bo...”, “Egídio”, Elisa também parecia surpresa. “Há quanto tempo”, sorriu para ele.

“Eu pensei que...”, Egídio tentava entabular uma frase completa que o tirasse do marasmo. Era sempre assim em ocasiões desconfortáveis. Além da reviravolta nas tripas, pensava em ir adiante tão desesperadamente com as palavras que se atrapalhava todo e patinava com a língua no céu da boca até poder acalmar-se. “Eu pensei que você tivesse ido embora daqui”.

Duas mulheres pediram licença, ambos atravancavam a passagem na escadinha bem à frente da entrada, e eles riram da situação.

“Eu sei”, disse Elisa, retomando de repente o olhar duro e distante. “Eu preciso ir”, alterou abruptamente sua postura amigável, subiu um degrau em direção à porta, mas deteve-se de repente e girou o corpo para encará-lo. Egídio acompanhara o movimento dela e agora protegia a visão com uma das mãos, a luz do sol circundava Elisa numa silhueta brilhante de anjo (ao menos foi a impressão dele). Iria grafitar, sem dúvida, pensou num relance. Olharam-se calados por alguns segundos antes que ela se virasse e num bote alcançasse o último degrau, deixando-o novamente plantado no meio de uma escada, desta vez com uma folha de papel embolada e molhada entre os dedos.

Tinham começado com “Papel de seda”, e ele inicialmente imaginou tratar-se apenas de uma alusão física. Sabia que sua magreza espantava. A avó com quem morava levara-o ao pronto atendimento duas ou três vezes alguns anos antes, mas os médicos sempre diziam a mesma coisa, enumerando questões genéticas, a compleição, as características físicas, não, minha senhora, não há nenhum problema com o garoto. Depois disseram “Graveto” e, ainda no primeiro dia, “Ossada”. Concluiu que eram muitos apelidos em tão pouco tempo e começou a desconfiar de algo mais sério, a ver mais do que diversão nos olhos dos caras da oitava que passavam bem perto dele enquanto soltavam os apelidos, às vezes até tomando-o pelo braço para sacudi-lo. Um fio de assombro (ele preferiu não confessar a si mesmo que aquilo era medo) subiu-lhe pela boca do estômago até estacionar junto com uma saliva viscosa engolida com dificuldade. Reparou (antes não tinha motivo para isso) que nos intervalos das aulas Elisa circulava exatamente entre “a turma do mal”. No entanto, não podia reprimir o desejo de vê-la e (ousadamente para seus detratores, docemente para si mesmo) até acenar a distância, sorridente e com o coração aos trancos. Ia ser preciso enfrentá-los, pensou com a amargura dos fracos e a coragem dos amantes.

II
Não tinha sido difícil para Egídio perceber a angústia de Elisa. Ao voltar correndo até a sala de espera e procurá-la entre os pacientes, avistou-a sentada numa das cadeiras com a cabeça entre as pernas, as mãos na nuca, como alguém que estivesse passando mal. Quando viu que Egídio estava ali, em pé, os braços caídos ao lado do corpo como um fantasma, levantou-se e puxou-o para fora com uma agilidade que ele desconhecia. Sentaram-se lado a lado sob uma mangueira já nos fundos do quintal. Elisa dizia a ele que era melhor não procurá-la mais, mas Egídio mal a ouvia, ocupado com o contato de suas mãos, os dedos entrecruzados num aperto que evocava uma sensação obscurecida, no entanto perfeitamente viva dentro dele.

“Parece que foi ontem mesmo”, Elisa encostou-se ao muro que contornava as dependências da ONG.

“Por que você foi embora de repente?”

“Foi preciso”, Elisa descolou a mão devagarzinho.

“Eu senti sua falta”, Egídio ficou perplexo consigo mesmo, não imaginava ser capaz de dizer algo assim. Viu que Elisa virava o rosto para esconder o sorriso.

“Você gostou daquele dia?”, ele não teve tempo de segurar a língua.

Ela voltou a encará-lo sem dizer palavra, mas um segundo depois abaixou a cabeça e apoiou o queixo no joelho, o braço esquerdo em torno das pernas, a mão direita esgravatando o solo com um graveto.

“Graveto”, ela disse sorrindo.

“É, você lembra?”

Elisa não respondeu, o sorriso desapareceu aos poucos.

“Graveto, Papel de seda, Ossada”, ele rememorou.

“Borboleta.”

Coisa curiosa, ele não se lembrava desse. Borboleta. Cavou lá no fundo da memória, mas não encontrou nada. Era capaz de recordar até da fuça dos caras quando passavam rente a ele para cuspir os apelidos, mas “Borboleta”?

Baiacu, Louco, Cocada e o chefe, Dudão. Essa era a trupe do mal naquele ano em que tudo aconteceu para ele, pois nada acontece a alguém até que se ame. Depois de conhecer Elisa, vieram os apelidos, talvez uma maneira sutil de marcar o território, já que antes do emaranhado de caderno e bolsa colorida no meio da escada da escola ele tinha sido ninguém mais do que apenas ele mesmo. Em seguida, Egídio não pôde evitar a decisão de ir para o tudo ou nada, o coração falava por ele, o resto era apenas uma vida transcorrida sem sentido até os catorze anos!

“Eles bateram em você”, disse Elisa de repente, olhando para o nada.

“Eu não tive medo, sabia?”, Egídio fitou-a de rabo de olho.

“Eles eram mais velhos.”

“E mais fortes”, sorriu ao som de duas costelas quebrando-se com um pontapé de Dudão havia mais de três anos.

“Eles diziam que iam te pegar, mas eu não acreditava.”

“Por quê?”

“Cachorro que muito late...”

“Mas eles também morderam”, disse Egídio, e precisou virar o rosto, como se quisesse esconder dela e pudesse esconder de si mesmo a sensação opressora causada pela lembrança do corpo do Baiacu sobre o dele.

“Só o Dudão não era covarde”, refletiu Elisa.

“É”, o Louco e o Cocada seguraram suas pernas e braços para que o Baiacu pudesse montar nele.

“Os outros só eram valentes se estivessem juntos.”

“É”, o Baiacu arrancou-lhe as calças.

“Uns bostas, só andavam em grupo.”

“Só”, ouviu a voz do Baiacu dizer vou te foder de verdade, e logo depois foi só um vazio ocupado pelo silêncio e pelas coxas molhadas.

“Gostei, sim”, Elisa estava curvada à frente, com os dois braços enlaçando as pernas.

Egídio ergueu as calças mentalmente antes de virar-se para Elisa ainda sem compreender.

“Daquele dia...”, ela soltou-se das pernas e encostou-se novamente ao muro, os lábios entreabriram-se num sorriso sem que ela pudesse fechá-los.

“Você dá uma grafitagem fodástica”, disse a ela, gravando na retina o perfil de Elisa, imaginando-o já cravado no muro lateral onde a luminosidade batia de tal modo que chegava a cegar. “Eu podia fazer um mural agora mesmo”, chegou a ver sua tag ao pé da obra e, sem a intenção de rimar, pensou ousadamente que podia chegar a Kobra.

Depois, abocanhando os beiços graúdos de Egídio, Elisa empurrou-o até que o tronco da mangueira pudesse engolir seus corpos riscados por suores e arrepios, e ali mesmo, no chão cru coberto por um colchão de folhas úmidas, fizeram de roupa e tudo um amor bruto.

Foi uma surpresa quando Elisa pediu com firmeza para que ele esquecesse tudo e não a procurasse mais, pois ambos estariam arriscando a vida se insistissem nessa história. Egídio sentiu como se o cérebro chacoalhasse dentro do crânio ao ouvir aquele nome, aquele apelido, aquela marca: Dudão.

“Estou com ele”, avisou Elisa. “É complicado explicar”, disse depois, vendo que Egídio permanecia imóvel e mudo diante dela. “É complicado também para entender, eu sei”.

E foi assim, estupefato, que ele a viu afastar-se, percorrer todo o quintal por debaixo das árvores dos fundos e depois ganhar a escada antes da rua. Dudão. Lembrou-se do rosto bem definido, dos olhos cobertos por sobrancelhas espessas, a testa ampla já com dois ou três frisos tênues, a cabeleira levemente encaracolada, o corpo sólido e aquele chute poderoso. Apalpou as costelas, mas a dor não estava mais nos ossos. Agora compreendia tudo. Dudão andava sempre com o irmão de Elisa. Diziam que era ligado ao tráfico, essas coisas. Recapitulou a prisão da trupe do mal, o envio dos garotos para unidades de menores infratores, embora Dudão aparentasse ser, e já quase fosse mesmo, maior de idade. Dudão não estava com os outros naquele dia do Baiacu, concedeu Egídio em pensamentos confusos.

III
Estava no meio de uma pintura executada num desses projetos socioculturais implantados ironicamente por grandes conglomerados que incentivam movimentos artísticos periféricos. Contornava a primeira asa da grande borboleta rajada do bullying quando a tinta esgotou-se, mas ele continuou ainda por algum tempo apertando o spray, cujo jato reduziu-se a um assobiozinho. “Ei, garoto”, disse-lhe um sujeito de camisa de mangas longas arregaçadas até o cotovelo e que parecia ser um dos coordenadores ali, “acho que acabou”, e indicou o cilindro na mão de Egídio. Egídio olhou para a cabeleira grisalha daquele homem alto que parecia observá-lo com admiração e que agora lhe esticava a mão, “Prazer, sou o Doutor Cavablanco, estou fazendo uma pesquisa sobre...”, mas não conseguia ouvi-lo mais. Ainda segurando o spray, percebeu que a grafitagem escapara-lhe de todo, de repente tinha se lembrado do outro apelido. “Borboleta”, disse consigo, “eu me lembro“, e a partir da lembrança foi como se tivesse havido uma explosão de seus sentidos. Em segundos, talvez menos que isso, tudo ficara tão claro para ele! Naquele breve lapso em que o spray soprou em vão, um pouco antes do tal Doutor Cavablanco despertá-lo, ele esboçou a decisão. E agora consolidava a ideia integral como um tratado de libertação, da própria libertação, melhor dizendo. Sob o olhar atônito de alguns parceiros do crew, recolheu seu material de trabalho e, sem responder a ninguém, saiu como se fosse para mijar.

IV
Fazia um sol brilhante quando eles encontraram-se na trilha do Pão de Açúcar. Egídio convenceu-a de que lá, em meio aos exploradores e curiosos, seria um bom lugar para conversar, pois todos ficam de olho em seus celulares, tirando ou postando fotos e trocando mensagens intermináveis. Elisa sugeriu iniciarem o trajeto separadamente, e assim fizeram. Depois, aproximaram-se quando já escalavam quase a metade do caminho. Embora estivesse inquieta e vigilante, ela pôde perceber uma estranha mudança no comportamento de Egídio. Subiram boa parte da trilha em silêncio, mesmo tendo a oportunidade de falarem à vontade aproveitando-se da distância para outros grupos que subiam e desciam em meio a admirações e suspiros de cansaço.

Por fim, ele segurou Elisa pelo braço, sentia a própria mão gelada, os dedos oscilavam num leve tremor, e ela imaginou que se tratava de despreparo físico. De repente Egídio pareceu-lhe ainda mais magro. Os raios de sol que varavam a vegetação pareciam atravessar sua pele. Chegaram a um mirante à margem da trilha. Dali a visão paradisíaca envolvia um incrível ângulo que abarcava mar e cidade, ambos juntando-se como se estivessem dispostos a posar para um quadro. Egídio, porém, não notou a possibilidade de extrair dali inspiração para seu grafite. Seguia estranhamente mudo. Estavam sozinhos, mas um segundo depois ouviram que alguém se aproximava. Elisa deteve-se por um instante e sentiu-se zonza ao ver Dudão a cinco passos dali. Certamente interceptara o informante ou este tinha alcaguetado por conta própria. Sem que ela tivesse visto, Egídio havia saltado a cerca de segurança e agora estava tão próximo do penhasco que mal dominava a vertigem.

“O que tá rolando?”, Dudão continuava tão sólido quanto antes, mas com o físico ainda mais desenvolvido.

“Eu...”, Elisa não soube o que dizer.

“Fui eu”, Egídio sorriu para ela. “Queria que os dois viessem”.

Hesitante, Dudão adiantou-se em sua direção. Elisa continuava imóvel, sem processar de onde vinha a principal ameaça.

“Eu me lembrei”, disse Egídio, “daquele apelido”, desequilibrou-se um instante, precisou segurar-se num galho. “Borboleta, você dizia”, sorriu para Dudão, “cuidado para não sair voando”.

Um segundo depois, desapareceu no vazio diante dos semblantes petrificados de Elisa e Dudão. Eles ainda avançaram como se pudessem esticar os braços e evitar a queda. Chegaram ao limiar do penhasco. Lá embaixo, havia apenas o mar lambendo as rochas num movimento contínuo e afetuoso.

* Este conto integra o livro "O criador de tudo" (não publicado)
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3 Responses to “Borboleta”

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