No limite da transgressão, Estado Bruto flerta com obsceno e presta tributo à honra

 

Capitão do exército confessa crime brutal contra a própria mulher e desencadeia narrativa sobre comportamento, política e sexo a partir dos incendiários anos 1960

O romance “Estado Bruto” situa-se em três períodos distintos: no fim da incendiária década de 1960, quando o país está sob o domínio militar; no início turbulento dos anos 1990, sacudido pela queda do primeiro presidente eleito democraticamente após o período ditatorial; e na metade desta segunda década dos anos 2000. A narrativa, ambientada nesses momentos cruciais da vida nacional, equilibra-se na fronteira da transgressão comportamental e é sustentada por uma arma mais poderosa do que as questões políticas determinantes para a construção de cada época: a busca pela compreensão da própria existência sob o princípio da honra.

Habituado ao rigor de seu regime disciplinar e afundado nos planos de guerrilha contra a ditadura, o capitão Valmor se vê envolvido num crime familiar após descobrir que sua mulher o trai. Situado no dia em que o homem chega à Lua, o episódio brutal desencadeia uma comovente história salpicada de suspense, erotismo e todos os signos sociais de um período de grandes transformações mundiais. Ao tratar de liberdades sexuais, comportamentais e políticas, "Estado bruto" testa, com voluptuosidade, os limites do obsceno.

O crime altera para sempre a história de um grupo comum de pessoas: a mulher frustrada e ao mesmo tempo ousada que, com a ajuda da psiquiatria, busca livrar-se das amarras de um destino com o qual não compactua; o psiquiatra, então um jovem que mantém um sentimento platônico pela paciente; o ginasial precoce que lê instigado pelo pai professor de literatura; seu irmão recruta do exército cuja vida é transformada por um simples acaso; e o próprio capitão, que protagoniza a história a partir da confissão do crime.

Narrada por Castelo, agora um velho professor psiquiatra, a história divide-se em camadas de tempo que se sobrepõem umas às outras e adentram sem pudores o oceano obscuro e imprevisível da mente humana. Os personagens mergulham de cabeça na areia movediça do amor e da honra em busca de respostas que às vezes não existem ou à procura de verdades que se perdem em meio à complexidade de sua própria essência. “Estado bruto” abre corações e feridas. E os faz sangrar.

Estado Bruto
Romance / 256 páginas/ Autor: Márcio ABC/ Editora: Epigrama

Tags: , ,

Comments are closed.