A primeira Teta ninguém esquece

A primeira Teta que vi, claro, foi a da minha mãe. Aliás, foram as primeiras tetas. Porque, afinal, elas são duas. Mas eu não me recordo, embora eu tenha mamado até 4 anos de idade (eu sei, um absurdo!) e minhas lembranças tenham origem bem antes disso – aos 2 anos.

Curiosamente, naquela época pronunciar “teta” era quase dizer um palavrão. E pensando bem até hoje ela é pouco usual (digo a palavra - rssss), mesmo sendo antes de mais nada nossa primeira fonte de alimento.

Mas uma coisa é certa: sua presença entre nós, sob o ponto de vista das referências psico-sexuais (existe?) é de uma complexidade magnífica. Talvez a única coisa capaz de derrotá-la nesse aspecto seja o pênis. Aliás, o Pinto (para aqui igualar a terminologia ao mesmo patamar de Teta).

E mesmo assim porque esse ser mitológico (o Pinto) é objeto de numerosos estudos da psicanálise e afins, enquanto a Teta acaba, por motivos óbvios, sendo de certa maneira preservada no sentido de que ela é como uma deliciosa rainha: nossas fantasias ficam escondidas sob o respeito que devemos a ela.

A primeira vez (que eu me lembre) que vi uma – aliás, duas – foi no meio de um cafezal perto de onde nasci, na Lagoa Seca, em Cafelândia. Era uma moça de pele morena, talvez uma adolescente. Não sei mais quem era. Ela estava trabalhando na roça e, sem perceber que havia alguém olhando, ergueu a camisa e livrou-se do sutiã (que devia estar incomodando).

Eu era um garoto que fazia pouco tinha acabado de ser desmamado. Também não sei mais o que senti. Mas uma coisa ficou pra sempre na minha cabeça: inexplicavelmente, um beija-flor a sondou bem de perto, acho até que o pequeno bico do pássaro atrevido aproximou-se tanto tanto de um de seus mamilos bem escuros, que a fez arrepiar-se e proteger as tetas com as mãos enquanto vestia de novo a camisa listrada.

Outra teta

Eu ainda não tinha visto “A teta assustada” (2009), peruano indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e ganhador do Urso de Ouro no Festival de Berlim. Vi agora. A narrativa envolve a superstição de populações indígenas do Peru sobre a transmissão de uma doença pelo leite materno das mulheres estupradas nos tempos do terrorismo do Sendero Luminoso (década de 1980).

Essa doença pode ser traduzida num medo insano da violação. Por isso mesmo, para se defender, a protagonista (Fausta) enfia uma batata na vagina.

Também achei um bom filme. Mas não mais que isso. O filme, aliás, explora bastante as contradições sociais peruanas. Fausta mora na periferia e a certa altura é humilhada pela patroa, mulher da alta sociedade de Lima.

Minha cotação: bonzinho.

Ninho

Aproveitei para pegar também “Ninho vazio”, filme do argentino Daniel Burman, diretor de apenas 37 anos que vem ganhando fama internacional com seus trabalhos.

A história é sobre um casal de meia idade que vê os filhos partirem para suas próprias vidas e passa a sentir o peso dessa ausência. Ela busca enfiar-se numa vida social intensa e ele, um importante escritor, torna-se cada vez mais introspectivo.

Essa divergência de posturas ajuda a acentuar a crise nesse casamento à beira do naufrágio.

Gostei do filme. Bons atores. Tema fundamental nos dias de hoje. Direção ótima. Dizem que foi um dos filmes mais vistos dos últimos anos na Argentina.

Minha cotação: inevitável (para os casados)

Marcha

Meu ninho também está vazio. Minha filha está na faculdade e o quarto dela guarda apenas suas coisas que ficaram, incluindo os bichos de pelúcia, que vivem o dia inteiro na cama, e a guitarra e o violão, mudos. É a vida, dizem. É a vida, eu repito.

Linha

De vez em quando, liga no meu celular um cara procurando um tal pastor Amaro. Não sei quem é o cara nem quem é o pastor Amaro. Mas já estamos quase amigos. Porque a coisa está se tornando próxima.

Começou apenas com “ah, foi engano, me desculpe”. Depois, eu perguntei se ele era da mesma área, ele disse que sim e ficamos meio atônitos. Mais algumas ligações e tanto ele como eu passamos a xingar, desiludidos, as operadoras.

De vez em quando, em várias áreas diferentes, ligo de algum telefone fixo para meu próprio número para, intrigado, ver se o pastor Amaro atende. Mas nunca o encontrei. De minha parte, desisto. Se o pastor Amaro quiser, ele que me procure.

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