Relação

Os animais são impressionantes. Ontem, nossa cachorrinha (que carrega um problema sério na coluna e de vez em quando tem umas recaídas) não estava muito bem. À tardezinha, decidimos nos fazer companhia, ambos deitados no tapete do escritório. Brincamos, trocamos ideias e cochilamos. Uma terapia – acho que para os dois.

Quando eu era criança, tínhamos uma gata em casa. Todas as noites, minutos antes de meu pai chegar da rua, ela, por algum motivo que eu nunca soube precisar, postava-se sobre o muro do quintal, certa de que dali a pouco ele chegaria. E quando chegava, ela imediatamente corria para dentro do carro. Meu pai levava sempre uma pequena pasta preta, fechada por um zíper, onde ele guardava documentos, cheques e outros papéis. Era lá, dentro da pasta, que ele a enfiava, deixando só a cabeça de fora, levando-a embaixo do braço, para contentamento de ambos.

Ainda naquela época, tivemos também, entre vários outros cachorros, um vira-lata preto, bem pequeno. Meu pai gostava de pescar. E ele também. Numa dessas pescarias, o animalzinho besta cravou um anzol na língua ao tentar comer uma isca. Foi operado com um canivete pelo dono na beira do rio. Viveu, dali em diante, sem um quarto da língua. Mas mesmo assim, ficava doente quando não era levado para pescar.

Certamente todos que convivem com animais têm muitas histórias para contar sobre a relação misteriosa entre esses bichos diferentes mas que se entendem perfeitamente. Numa época em que o homem encontra sérias dificuldades para conviver com seus semelhantes, ao menos resta-lhe o consolo – ou a iluminação – de manter-se na boa companhia desses animais extraordinários.

A literatura e o cinema são fontes inesgotáveis de exemplos. Aliás, nos últimos anos a ficção parece ter intensificado sua presença dentro dessa curiosa relação. Mas minha dica hoje vai para um conto escrito há mais de 120 anos pelo russo Tchekov: “Angústia”. Nada direi. Leiam!

Minha cotação: maravilhoso

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