Épico

O romancista e poeta russo Boris Pasternak é protagonista de uma das mais belas e impressionantes histórias da literatura mundial. Ele escreveu “Doutor Jivago” entre 1945 e 1955, mas o romance chegaria ao público inicialmente em italiano e, claro, fora da antiga União Soviética, cujos bambambans só permitiram a publicação do livro em 1989! Simplesmente 34 anos depois de sua conclusão.

Aliás, um ano após a publicação em italiano – feita contra a vontade do autor -, Pasternak ganharia o Prêmio Nobel de Literatura, ao qual foi obrigado a renunciar por causa da pressão do governo soviético. A primeira edição russa de “Doutor Jivago” só saiu em 1958: uma versão pirata na Holanda.

Quem gosta de cinema já deve ter visto a adaptação da obra para a telona, com Omar Sharif, Julie Christie e Alec Guiness. A direção é do lendário David Lean.

Eu gosto do filme, mas a comparação com o livro acaba sendo inevitável, o que é, digamos, uma covardia, claro. “Doutor Jivago”, o livro, é uma das mais profundas obras dos profundos autores russos.

O personagem do título, o médico Iúri Jivago, criado durante a Primeira Guerra Mundial e levado a viver o drama da revolução e da guerra civil na Rússia, expõe as feridas da política e de suas próprias fraquezas e afirmações.

Trafegando entre a poesia e a medicina, entre o lirismo e a realidade cruenta dos combates, Iúri Jivago avança numa interminável luta com as batalhas travadas em seu próprio coração.

Uma curiosidade: a edição da BestBolso é traduzida diretamente do russo para o português pela professora Zoia Prestes, filha de Luiz Carlos Prestes e de Maria Prestes.

Para mim, o início de “Doutor Jivago” é também um dos mais belos da literatura mundial. Leiam o primeiro parágrafo, que se passa durante o enterro da mãe de Iúri, quando este é ainda um menino:

“Caminhavam, caminhavam e cantavam 'Lembrança Eterna', mas quando paravam, parecia que, de tanto ser cantada, a música continuava a ser entoada pelos pés das pessoas, pela marcha dos cavalos e pelo sopro do vento.”

Numa época como a de hoje, quando a ética causa tantas dúvidas diante de sua complexidade e das análises que buscam atender às conveniências dos lados envolvidos, “Doutor Jivago” é também uma tábua a se apegar.

Minhas cotações:
O livro, extraordinário
O filme, muito bom

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