De responsabilidade e colhões

Quantas vezes já ouvimos alguém bradar “quero ver se ele tem coragem de dizer isso na minha cara”? Esse tipo de frase e seus afins são comuns quando as pessoas se sentem ofendidas por palavras ditas longe de sua presença.

No jornalismo costuma-se dizer que é muito mais fácil criticar os políticos de Brasília, que geralmente estão distantes, do que falar daqueles mais próximos, dos homens públicos que podem ser encontrados nos bares, restaurantes ou mesmo nas ruas por onde passamos.

De fato, a velha tese de que é mais fácil ter colhões quando sua vítima está fora do alcance físico parece ganhar corpo nas redes sociais.

Tornou-se uma banalidade do cotidiano os usuários mandarem chumbo quente em figuras públicas, como políticos, artistas e jogadores de futebol, entre outros. Mas é um chumbo atirado de uma distância segura.

Muita gente se aproveita do escudo virtual para destilar palavrões banhados a ódio contra quem quer que seja. Presidente da república, governadores, senadores, deputados, ninguém se salva.

Na verdade, quase sempre os usuários têm um fundo de razão em sua revolta. Isso, entretanto, não justifica a falta de respeito e os ataques pessoais, muitas vezes desferidos a partir de falsas notícias, boatos ou mesmo acusações que ainda não foram devidamente apuradas.

Em boa parte dos casos, as ofensas são confundidas com a tal liberdade de expressão. A liberdade de expressão talvez seja o mais valioso recurso de uma sociedade democrática. Porém, é preciso compreendê-la, saber até onde vão os limites de sua abrangência.

Claro que o tema merece um tratado e é polêmico. Mas acho que se nos apegarmos a uma regrinha bastante simples já será um bom começo: quando for criticar um cidadão (seja lá quem for) pelas redes sociais, escreva apenas o que você teria coragem de dizer a ele pessoalmente. Ou, se preferir ser ainda mais rigoroso, diga apenas o que você tem certeza de que pode sustentar num tribunal.

Para agir assim nem é preciso ter colhões, mas apenas responsabilidade.

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