Nos tempos de home office

Desde que montamos um grupo de prestação de serviços na área de comunicação, há menos de um ano, a maior parte do meu trabalho é feita em casa. Essa, mais que uma tendência, é a realidade que se alastra. Mas não é exatamente do aspecto mercadológico que quero falar. Quero falar que sou bem quadrado para esse tipo de coisa.

As transformações da chamada vida moderna nos pegam de calças curtas, tenho que admitir. Muitas vezes achamos que temos completo domínio da situação, mas depois descobrimos que não é bem assim. Não ter um colega ao lado para fazer um comentário banal ou pedir uma opinião pessoalmente, ficar um bom tempo sem ouvir a própria voz, desejar dizer para alguém que está com dor de cabeça ou chamar o pessoal para uma cerveja no fim do expediente, a falta disso tudo incomoda. Mas não é só isso, no meu caso.

Eu sempre fui um cara daquele tipo “certinho”, que procura organizar sua vida do melhor modo possível. E esse comportamento muitas vezes está ligado a convenções. Sair de casa e ir para algum lugar desempenhar sua atividade é uma delas.

Uma coisa que sempre me incomodou, durante toda a minha vida profissional, foi ter que faltar ao trabalho por algum motivo. Nunca me senti bem nessas circunstâncias. Tive certeza disso ainda na adolescência, quando certo dia inventei uma desculpa qualquer para não ir ao trabalho.

Foi um dos piores dias daquela fase. O que seriam horas para relaxar e aproveitar a “folga” se transformaram em terríveis minutos, cujo peso só começou a sair das minhas costas quando na manhã seguinte eu estava trabalhando de novo.

Na escola, acontecia o mesmo. Até hoje tenho sonhos recorrentes em que, de algum modo impedido de ir à aula, me vejo sob o desespero. Acordo como se fosse de um pesadelo. Ainda hoje!

A verdade é que não é fácil mudar. Falo de novas tecnologias, de novos tempos, de uma nova realidade, mas no fundo, como diz aquela letra do Belchior, “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. Ao menos em parte. Ao menos eu.

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One Response to “Nos tempos de home office”

  1. Sonya disse:

    Pois é Márcio, acho que à nossa geração foi transmitida responsabilidade na medida…na medida do impossível, sabe? Por isso essa sensação de omissão quando temos que faltar ao trabalho até mesmo por doença, quando a própria vida está nos pedindo um momento para ficarmos quietinhos.
    Mas olhe, a despeito de tudo que você citou e que é realmente muito bom quando se sai para trabalhar, ainda quero ter a experiência de trabalhar em casa…e como quero.
    Abs.