Sexo e poesia em Ipanema

Num bar próximo às ondas geladas de Ipanema. Foi onde aconteceu.

Em meio ao movimento crescente do início da tarde, em meio aos passos apressados dos garçons, ao som das vozes de velhinhos animados que um dia podem até ter tomado uns porres com Vinicius de Moraes, viram-se já fechados numa redoma incerta de minutos. Apenas cinco ou seis minutos.

Ele havia deixado a roda de amigos para dar uma volta pela praia. Encantado e solitário, parou no calçadão para olhar as ondas se quebrando sob o sol forte, as ilhas e os navios ao fundo, a atmosfera sedutora que inebria, Ipanema da poesia e da espontaneidade das ruas.

- Bonito, né?

A voz estava bem ao seu lado, entre tantas outras vozes. Depois de alguns segundos, deu-se conta de que era com ele.

- Muito bonito...

O que dizer?

A moça, de saída de banho transparente cobrindo-lhe as coxas, fez mais duas ou três perguntas. Ele respondeu.

- Toma um chope comigo?

A pergunta deixou a boca de lábios grossos e foi se acomodar no sistema nervoso do solitário encantado. Quando viu, estavam entrando num bar, pedindo um chope. Ele, antes, precisava ir ao banheiro.

Foi aí que ele passou pelos possíveis velhos conhecidos de Vinícius e pelos garçons apressados com bandejas de bebidas e comidas. Lembrou-se de repente que estava lá: num dos bairros mais famosos do mundo.

Chega ao banheiro, sente atrás de si a porta não se fechar, percebe o movimento sutil da garota paulistana de saída de banho transparente, aspira o cheiro de bronzeador que recende de seu corpo levemente avermelhado.

O espaço se encurta entre eles, a porta do pequeno banheiro de trava quebrada range e range e range e range.

Acho que não foram cinco ou seis minutos. Acho que foram três ou quatro. Só os dois, fechados na redoma.

Será que Vinicius tomou chope ali? Quando a garota paulistana de Ipanema o deixou lá, limpando-se dos vestígios da breve loucura, foi no que ele esteve pensando.

Não há como não pensar nessas coisas em Ipanema. A qualquer hora. Em qualquer circunstância. Ali, a realidade e os sonhos parecem estar sempre passeando de mãos dadas pelo calçadão, pelas esquinas, pelos bares. Às vezes, te levam junto.

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2 Responses to “Sexo e poesia em Ipanema”

  1. Luciandréa disse:

    Opaaa…
    Lindo romance de um tempo só…ipanema é magia mesmo

  2. sueli pereira silva chohfi disse:

    O Rio é uma cidade que exala amor. O mar, as mulheres e homens belíssimos traz toda a sintonia do prazer, alegria. Adorei o que voce escreveu. Às vezes tenho que imaginar sentada em qualque praia do Rio, respirando a brisa do mar e aquele sol maravilhoso na minha pele pra sentir que a vida é maravilhosa.