Conversa na praça com um casal de namorados

Faz tempo que eu estava planejando, mas não me chegava a coragem. Ontem, sei lá o que me deu, venci minha terrível timidez e falta de jeito para começar um papo, e fui matar minha curiosidade. Falei com o casalzinho de namorados que vejo de vez em quando na praça. Há outros que se sentam lá, mas esse me chamou a atenção porque tanto ele quanto ela me parecem realmente apaixonados. E é incrível como o amor, quando aparenta ser verdadeiro, atrai também quem não tem nada a ver com a história. No caso, eu.

Ela é magrinha, cabelos encaracolados, está de saia que cobre os joelhos, uma blusa branca realça-lhe os seios duros acobertados por um sutiã cujas marcas transparecem nitidamente. Tem 17 anos, mas não parece. Parece ter 15 no máximo. Ele está de calça jeans, camiseta com algo sobre rock escrito no peito, tênis branco batido. É do mesmo modo bem magrinho, cabelos lisos penteados pra frente num estilo modernoso. Tem 15 anos. Parece ter 15 mesmo.

De cara, suspendem o papo e olham para um estranho qualquer que vai acintosamente na direção deles. O estranho sou eu. Pergunto se podem me responder a umas perguntas. Digo que sou de uma empresa de pesquisa. Ela se ajeita como se eu fosse fotografá-la. Ele ergue o queixo e responde que sim.

É rápido, digo a eles, muito mais para relaxar a mim mesmo – odeio mentir. Vocês estão namorando? Ele olha pra ela e sorri de aparelho nos dentes. Ainda encarando-o, ela responde que estamos sim! É, a gente namora sim, repete ele. Há quanto tempo? Ah, faz uns meses aí, ele calcula. Sempre aqui? É, quase sempre. Por quê? Gostam da pracinha? Ah, não tem outro lugar, a mãe dela não gosta muito. Os dois riem por um instante.

A mãe dela não gosta de você? Ela me acha muito novo. Riem outra vez. E você, se acha muito novo? Não, acho que não. E você, você acha que seu namorado é muito novo? Acho sim! Agora eles gargalham. Eu também dou risada, estou à vontade com os garotos. Sua mãe sabe que vocês estão aqui hoje? Meio desconfiada e lançando olhares rápidos para os lados, ela me diz que não. Que se soubesse, viria atrás.

E vocês não pensam num lugar mais escondido? Aqui todo mundo vê vocês, brinco. Nada, diz ela. Aqui ninguém percebe a gente. É engraçado isso, mas parece que aqui a gente fica bem escondido. Nem é preciso dizer que ambos voltam a sorrir, cúmplices, seguros de si, debaixo de árvores altas, na penumbra do inverno seco e mal iluminado de uma pracinha onde, logo atrás do banco deles, dois cachorros vagueiam sem qualquer preocupação com o esconderijo público dos namorados ou com minha falta de jeito para encerrar um papo.

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