Viva a Catalunha!


Protesto em Pamplona, Espanha, contra o massacre dos touros na Corrida de San Fermín, em julho

Imagino o quanto seja difícil para um povo aceitar que se acabe radicalmente um dado cultural tão entranhado em sua história, como são as touradas para os espanhóis. Por isso, minha solidariedade à coragem da autônoma Catalunha, tentando fazer valer a proibição das touradas em suas terras a partir de 2012. Daqui, do outro lado do Atlântico, envio aos catalães meu total apoio e minha admiração.

Um dia, quem sabe, toda a Espanha também acordará para o que uma corrida de toros representa. Não é uma luta leal entre homem e animal pelo alimento ou para proteger as respectivas ninhadas. É a morte anunciada desde o momento em que se abrem as portas da praça. O objetivo do embate é a morte do touro, não sem antes o toureiro esgotá-lo, espetá-lo, feri-lo e sangrá-lo até a morte, sob o incentivo e os aplausos da plateia. E não satisfeitos com isso, os fanáticos espectadores ainda pedem a orelha ou a cauda do animal como souvenir do “grande feito” do toureiro, o herói da festa.

Viva a Catalunha, que, como sempre, parte na frente do resto da Espanha, da qual faz questão de ser autônoma, e tenta banir de suas terras uma barbárie travestida de festa nacional.

Inspirada nessa atitude, a Espanha poderia repensar sua fatídica Corrida de San Fermín, quando anualmente, em julho, touros são soltos pelas ruas de Pamplona, que disparam assustados enquanto são surrados, seus rabos puxados e maltratados pelos que ali estão apenas para isso. E tudo visto como diversão. Felizmente, nem todos em Pamplona pensam assim, e há alguns anos algumas associações de proteção aos animais vêm se manifestando pela abolição dessa tradição de mau gosto e de crueldade explícita.

No mesmo pacote, nossos catarinenses lúcidos poderiam continuar seu apoio à Lei Federal nº 9.605, de 1998, que proíbe uma estupidez semelhante, chamada Farra do Boi. Durante a Farra, os animais também são soltos pelas ruas para serem provocados, espancados e até incendiados, torturados de todas as maneiras que o ser humano sabe tão bem imaginar e pôr em prática, mostrando às suas crianças o que se faz com animais indefesos.

Os “farristas” – a favor da continuidade – tentam a todo custo reviver a manifestação, que em alguns locais ainda persiste, sob as vistas grossas de quem poderia impedir. Como essa manifestação já é uma tradição há 200 anos, os defensores da barbárie argumentam que não se eliminam tradições por decreto ou repressão.

É verdade, mas lei, decreto e similares podem ser um primeiro passo. A Catalunha deu o seu, que Santa Catarina já tinha dado, e não se pode prever até onde vão esses passos. Mas eles mostraram a cara e vão enfrentar a resistência a esse tipo de barbarismo primitivo, que alguns ainda insistem em preservar com o nome de tradição.

E-mail: anaflores.rj@terra.com.br

Tags: , , , , , ,

Comments are closed.