O forte

Joaquim era tropeiro. Atravessava o estado levando os bois, viagens de um mês, ou mais, tomando cachaça com os companheiros de lida, cozinhando em fogo de chão, dormindo embaixo de carroça, inverno, garoa, chuva, barro, frio. Naquele baile de campanha arranjou uma namorada, apaixonou-se, noivou e teve que providenciar um emprego mais estável e seguro. Entrou para a Viação Férrea, foi trabalhar no carro-socorro, paramédico de trem. Num resgate, o carro descarrilado terminou de capotar por cima dele, caíram os dois barranco abaixo, quase morreu, quebrou uma perna, o osso do quadril e teve que se aposentar. Mas tropeiro não se dobra: aos 85 ainda ia ao açougue todas as manhãs, de bengala, ainda era o provedor da família, o que botava comida na mesa, de fato, com orgulho. Um dia, enquanto escolhia a carne, uma loira desconhecida lhe sorriu, lhe fez gracinhas, ele ficou meio bobo, e na hora de pagar não tinha mais a carteira.

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