Desinformação e arrogância: um recorte da polêmica Luiza x Mainardi

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Afora embates políticos e econômicos (aos quais não me apegarei aqui), o episódio entre a empresária Luiza Helena Trajano e o escritor Diogo Mainardi, no Manhattan Connection, martela um prego enferrujado que só faz arruinar o couro do jornalismo ao expor brutalmente desinformação e arrogância. Esta, a arrogância, foi expelida num instante de possível surpresa: o escritor colunista procura contrapor-se à força superior dos dados econômicos e quando é abatido, vendo-se num beco sem saída, tenta disfarçar o sorriso nervoso com a ironia grosseira diante de um entrevistado "me poupe, por favor, Luiza...".

O fato é que o profissional de comunicação não é obrigado a abarcar todo tipo de conhecimento, a ser o dono da verdade. Claro que é preciso se preparar para uma entrevista, mas dificilmente se chega ao nível de informação do entrevistado, principalmente quando ele fala sobre um tema de seu absoluto domínio. Aliás, se não fosse assim, para que a entrevista? O próprio entrevistador poderia dizer tudo, não é?

Portanto, não é vergonha nenhuma ao entrevistador ser surpreendido por dados entregues pelo entrevistado. O entrevistador deve, ao contrário, saborear aquele gostinho de ter obtido uma informação da qual ele mesmo não tinha conhecimento. Negando essa verdade, martelando obsessivamente a cabeça do prego de suas convicções, o entrevistador colabora para a desinformação. Ele próprio não se informa.

A doença se dissemina rapidamente no meio jornalístico (parece-me que Mainardi não é jornalista, mas hoje em dia quem é jornalista, né?). E tornar essa doença explícita, embora de um modo deselegante, é um importante legado que o escritor colunista roteirista deixa para os ecos do jornalismo. Porque quando a doença é exposta claramente, como nesse caso, fica mais fácil combatê-la.

Arrogância e desinformação, tumores da doença exposta, não constituem um mal incubado neste ou naquele profissional de imprensa. Longe disso! Salva poucos e está solto por toda a imensa pastagem jornalística, como um adubo traiçoeiro e malévolo que atrai os jornalistas para uma lenta e persistente ruminação de sua própria vaidade.

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