Crônica de um sonho sobre o pênis do meu cachorro

Eu sou um cara cujo sono é feito de sonhos. São muitos sonhos numa noite só. Eu até os divido em curtas, longas, minisséries e novelas intermináveis (que me acompanham durante anos e anos). Espero sinceramente que o sonho da noite passada tenha sido apenas um curta. E que nunca o diretor dos meus sonhos pense na possibilidade de transformá-lo em minissérie ou novela.
Foi assim:
cheguei a uma farmácia com a receita de um veterinário nas mãos. Embora sem conhecê-lo no sonho, eu tinha um cachorro. Macho. Era para o farmacêutico fazer uma injeção que seria aplicada no pênis do meu cachorro. Coisas de sonho, pois o correto seria o próprio veterinário aplicar. Bom, mas foi apenas um sonho.
– Para que é a injeção? – perguntou-me o farmacêutico, sem descruzar os braços, atrás de uns desses óculos que parecem ter sido feitos com fundo de garrafa.
– Não sei – eu respondi. – Só sei que é para o pênis.
– Mas serve para quê? – ele insistiu, na mesmíssima posição, observando sem tocar a receita sobre o balcão.
- Não sei – repeti. – A receita deve dizer.
Ele me olhou por alguns segundos e começou a rir.
- Você já viu alguém entender letra de médico?
- E o que eu faço então? – comecei a ficar puto com aquela postura ridícula do farmacêutico.
- Vocês aí – ele chamou dois sujeitos que mal cabiam debaixo do teto da farmácia. – Venham cá.
Como em sonho tudo é esquisito, imaginei que os caras fossem tradutores de receitas ou algo do gênero.
- Levem-no! – ele ordenou aos dois, apontando o indicador que num segundo triplicou de tamanho em minha direção.
Esperneando, chutando o ar, gritando feito louco, fui levado pelos brutamontes a uma sala nos fundos da farmácia. Para facilitar o trajeto, eles me botaram de cabeça para baixo e cada um me segurou por uma perna. Com a cabeça rente ao chão, vi as margens do corredor que levava aos fundos cheias de receitas velhas rasgadas, injeções pingando sangue, trapos encharcados de substâncias intraduzíveis e coisas do tipo.
Cena seguinte: eu estava deitado e preso a uma mesa, luzes fortes nos meus olhos quase me cegando, tornando tudo à minha volta tão claro que eu não podia enxergar.
- Vamos resolver seu problema – apareceu de repente, em meio aquele clarão todo, o farmacêutico. A cara dele estava tão próxima da minha que eu via a campainha no fundo de sua garganta.
- O problema não é meu, seu maluco! – gritei com todas as minhas forças. – A injeção é para meu cachorro.
- Todos reagem assim – ele comentou com absoluta indiferença com alguém que eu não pude ver ao seu lado.
- O que você vai fazer? – eu perguntei quase chorando.
Ele se afastou um pouco e começou a rir. Quando voltou a se aproximar, abriu a bocarra e tirou a língua para fora, mas não era língua. Era um pênis cuja glande não era uma glande, e sim uma injeção.
Acordei daquele modo que se acorda de um pesadelo, achando que estava gritando sem, no entanto, estar. Puta que o pariu! Prefiro muito mais aquela novela em que sou um guerrilheiro lutando contra o governo déspota de um país latino qualquer. Naquele sonho, balas raspam minha cabeça, canhões se voltam contra mim, granadas explodem ao lado da minha trincheira, vidros se estilhaçam no meu rosto, um exército vem me massacrar. Mas é só isso!

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One Response to “Crônica de um sonho sobre o pênis do meu cachorro”

  1. fernanda villas boas disse:

    Márcio, eu nunca vi um sonho tão freudiano como esse!!! Pede para Ana Clara psicóloga interpretar!!! hahaha… Ótima crônica!