Manifesto de indignação

Há algo errado num país onde o governo diz que (eu disse diz que) vai liberar R$ 780 milhões para as cidades atingidas pelas cheias no Rio e em São Paulo, enquanto o Congresso Nacional terá em 2011 um acréscimo em sua folha de pagamento em torno de R$ 860 milhões. Não há algo errado?

Há sim.

Sou geralmente contra comparações desse tipo. Porque se os salários dos parlamentares e seus eventuais reajustes são exagerados, a culpa também é nossa. Não conseguimos adotar atitudes fortes no sentido de impedi-los. Ou, antes até, não conseguimos eleger gente melhor.

O caso é que diante da tragédia das pessoas atingidas pelas enchentes (tragédia que por sinal, na minha opinião, também deve ser creditada em grande parte a políticos incompetentes ou vagabundos ou ladrões ou tudo isso junto), diante dessa tragédia é inevitável olhar para esses dois números.

De um lado, populações que perderam tudo dividirão uma verba que nem se pode ter certeza se vai chegar inteira ao seu destino. E se chegar, na divisão será uma merreca. De outro, meia dúzia de políticos, que geralmente já têm ótimas condições de vida, embolsarão um bocado a mais do dinheiro que todas as populações – incluindo as atingidas pelas chuvas – pagam de impostos para inclusive poder sustentá-los.

Situações como essa, que periodicamente afetam desgraçadamente populações inteiras, não devem servir apenas para reavivar nosso espírito de solidariedade ou ajudar a pressionar os governos para que adotem medidas efetivas de prevenção nas áreas de risco. Situações como essa devem servir também para lembrar a todos que ainda é preciso cobrar dos políticos, e de nós mesmos, posturas de combate à imoralidade que, assim como a chuva, ainda alaga nosso país.

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