só – Texto de Thiago Roque

a taça jaz em cima da pia, guardando um resto de vinho abandonado.
virada do avesso, num canto, de castigo, a lembrança está emburrada.
sabe aquela cara de "eu não fiz nada"?
falta apenas ajoelhar no milho.
os telefones do disque-alguma coisa não atendem.
os cds da fiona apple se cansam de rodar.
luz do sol, brilho do luar, ininterruptos, marcam o tempo.
já era hora de perder as horas.
para dormir, pílulas.
para existir, mágoas.
palavras cruzadas, serviço de acompanhantes, poemas de rimas tristes, sofá duro para descansar sua dor.
velhinha já, sabe? diabética também.
sacolas e sacolas de solidão. compra do mês feita.
aceita ticket?
se precisar, faz empréstimo.
mas entrega em casa, por favor.
jornais e sorrisos amarelados - alguém quer ler sentimentos antigos?
do outro lado do silêncio, tenta gritar seu desespero.
tudo para de rodar por um instante.
e esse instante, eterno contar de suspiros, se diverte.
senhor de sua angústia, ri de boca aberta. saliva. velho babão, isso que é.
tudo fica maior e menor - só não fica do tamanho que deveria.
quanto veste a satisfação? calça 42?
mas não combina com essa camiseta vermelho-desisto.
o olhar encara o nada, na tentativa frustrada de paquerá-lo e levá-lo pra cama.
despe-se da timidez, capricha na conquista.
mas o ministério dos corações partidos adverte: amar, só com proteção.

E-mail: roque.thiago@hotmail.com

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