um texto feliz – Texto de Thiago Roque

era um domingo de sol.
ele estava indefectível num conjunto azul-menino, tênis branco e um boné que lhe conferia um certo ar de malandragem-carioca-boêmia – nem tanto a madame satã, nem tanto a marcelo d2.
já ela, cor-de-rosa no vestido, tiara de princesa, sandália fechadinha para poder correr à vontade. fashion. coisa de passarela.
o parque era grande, com muito verde, com muita gente.
muito... coisa que não se mede.
em outra ocasião, eles não se encontrariam.
mas deus fez o mundo, o homem, a mulher, o destino – na verdade, este último ele contratou, pois deveria ter feito no sétimo dia, o dia da preguiça.
lá de cima, o todo-poderoso era só torcida.
mas ô duplinha desafinada.
ela passa correndo e ele... não a vê.
ele grita com os amigos para aparecer, mostrar que está ali (coisa de macho, sabe? marcar território...) e ela... está no banheiro.
os olharem parecem se cruzar, mas algo surge no meio do caminho: pipoqueiro, sorveteiro, famílias, latidos...
e o destino lá, temendo pelo seu emprego. em época de crise, incompetência não tem vez.
as horas escoando pelo bueiro do tempo, e nada dos dois se encontrarem.
até deus estava tenso. será que não seria dessa vez?
ficaria tudo para depois?
eles teriam outra chance?
não precisaram.
ela se levantou com um pouco de dificuldade, caminhou em direção à arvore de caule grosso e sombra convidativa. queria dar um tempo do sol.
ele viu a mesma árvore, a mesma sombra, o mesmo motivo, deu os mesmos passos na mesma direção.
aí, virou cena de romance melado.
um passo dela, outro passo dele. um dela, outro dele.
ela. ele
ela.
ele.
e então, fez-se a mágica.
o encontro.
os olhares.
ele tinha covinhas nas bochechas.
o cabelo dela parecia mais loiro de perto.
ele tinha os olhos negros, jabuticabos.
ela tinha o olhar doce, claro, hipnotizante.
pareciam sem ar.
sentiram o coração dar uma acelerada.
deus já sorria. o destino, enxugava o suor - que dureza...
parados. um em frente ao outro.
não sabiam o que dizer.
não sabiam o que fazer.
não sabiam.
mas era amor.
nasceu ali. fagulha. plantado. rega todo dia que, antes da primavera, tá bonito, todo florido.
ela riu.
ele também.
ela tinha 5 anos.
ele, mais vivido, 6 anos e 4 meses.
ele aproveitou e a cortejou. estendeu um balão vermelho - ganhara do palhaço do parque, mas ela não precisava saber disso.
ela sorriu.
pegou o balão. sorriu. e correu.
antes de pular no colo do pai para ver os macacos (como ela se divertia com os macacos!), olhou para trás.
sorriu.
três sorrisos.
"amor", berrou deus lá de cima, assustando querubins e santidades castas.
"amor", decretou mais uma vez o velho bonachão, emocionado, encantado.
deus parecia não acreditar.
mas o menino lá embaixo já sabia.
e desde o primeiro sorriso.

*** para luana, que acha que eu deveria escrever coisas mais alegres.

E-mail: roque.thiago@hotmail.com

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