Campo de batalha

As épocas sempre são sangrentas. Nos campos de batalhas ou nas ruas, as pessoas morrem sem poder evitar. Pode parecer paradoxal, mas faz parte da vida. Não se costuma dizer “é a vida” quando uma morte é lamentada? Essa história de violência, na verdade, já me traz um ar de incerteza quanto à possibilidade de seu esvaziamento. Os mecanismos de combate à violência esgotam-se, um atrás do outro, diante da fortaleza que se ergue em torno de seu núcleo sangüinário. As hostes da paz debelam-se perdidas em meio a um tempo turbulento, o tempo de sempre.

Isso tudo, para mim, é fato irremediável. Pode haver um oásis aqui e outro ali, mas o deserto é vigoroso, como nunca visto antes por nós, mas certamente testemunhado por outros.

O que me intriga não é a violência, mas seus modelos. Houve períodos da história em que os homens digladiavam com machadinhas e lanças, com escudos e espadas, com flechas e tacapes. Sangravam horas e, às vezes, dias. Debruçavam-se sobre a terra e podiam sentir na carne o cheiro de seu último destino.

Mas, como tudo muda, passaram a morrer de um modo menos áspero. Morrem de bombas e nem sabem do que morreram. Caem apagados por uma bala perdida antes que possam pensar no vermelho do sangue. Cada vez mais, morrem de bobeira. Não têm mais tempo de descobrir o que os levou. Não sentem mais o cheiro da terra. E, quem sabe, mal a conhecem. Daqui a pouco, de tão abrupta e insensata, esta tal morte se enfiará entre nós pelos olhos. É só mesmo o que falta: matarmos pelo olhar, pelo caminho que nos faz amar.

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