poeta – Texto de Thiago Roque

não confie no poeta. sobretudo aquele que rima o amor.
farsante. mercador da ilusão.
propaga o amor como um sentimento único. belo. deus grego. narciso.
mentiroso. cara-de-pau.
os meros mortais sabem o quanto o amor pode ser feio, ogro, violento.
mas o poeta se vende – deve ganhar um bom dinheiro por fora. afinal, melhor do que vender enciclopédias – seu primeiro trabalho.
nas mãos dele, o amor ganha status de oxigênio. indispensável.
natural: respire, inspire, ame.
doido de pedra quem se recusa a amar. camisa-de-força nele.
fraude. o poeta e o amar.
deveria ser crime ser poeta. condenado em todas as instâncias à pena de morte.
encontra um pingente dourado de coração na rua e pronto: está lá a escrever que ao acaso, numa noite fria, o coração de alguém chegou às suas mãos, obra do destino, obra do inevitável, obra cósmica.
balela. obra de um descuidado. é só um pingente.
são só frases. linhas tortas que mexem com seu desejo.
são só palavras. rimas pobres. irresponsáveis.
é só um poeta.
não confie nele.
nem no amor.
sentimento que o poeta diz conhecer tão bem.
que diz tomar chá das cinco junto.
com quem diz trocar confidências.
mais uma mentira.
no máximo, são conhecidos que trepam.
e o poeta não liga no dia seguinte.
aliás, nem o amor.

E-mail: roque.thiago@hotmail.com

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