Primeiras noções

– Primeiro se posicione bem atrás do fuzil. Na hora do sufoco pode não dar tempo de escolher a melhor posição, mas pelo menos você tem que estar bem apoiada, em pé ou deitada, certo?

– Certo.

– Bom, uma das mãos vai sustentar o cano, que é muito pesado e tende a baixar.

– Tá bom.

– Mas não ponha a mão no cano, ela vai se queimar quando passar a munição.

- Então onde eu seguro?

- Mais pra trás, no guarda-mão, justamente por isso tem esse nome.

- Ah, tá.

- Agora encoste a soleira da coronha no ombro, e descanse a maçã do rosto na coronha, do jeito que eu estou fazendo.

- Assim?

- Isso mesmo. A sua mão desse mesmo lado vai segurar o punho do fuzil e o dedo indicador vai descansar na tecla do gatilho, pronta pra ser acionada.

- É a mesma coisa que apertar o gatilho?

- É, mas deixa isso pros cowboys. No nosso ofício nós dizemos acionar a tecla do gatilho. Bem devagar e continuamente, pra não perder o alvo com um movimento brusco. Entendeu?

- Acho que sim.

- Antes de subirmos aqui pro terraço você disse que estava com um pouco de medo, lembra?

- Lembro.

- E agora?

- Só um pouquinho, tá menos.

- Mais tarde, quando você sentir o cheiro de pólvora depois do seu primeiro tiro, vai ver muita coisa mudar.

- Como assim?

- Na hora você vai entender o que estou falando.

- Ah, é?

- Pode apostar. Bom, continuando. Afaste a tampinha da luneta e comece a procurar o alvo.

- Por que a luneta tem uma tampinha?

- Porque dependendo do local onde você se posicionar, o vidro da luneta vai dar reflexo e vão te localizar.

- Ah, entendi, isso não é bom... E quem a gente vai acertar?

- Ninguém. Hoje só estou te passando as dicas de posicionamento pra você ir se acostumando com o peso do fuzil e com a maneira de segurar sua arma.

- Só isso?

- Por enquanto, é.

- Mas então quando eu vou começar de verdade?

- Nessa profissão é preciso ter paciência e autocontrole, filha. Começar de verdade, só quando você fizer 11 anos.

E-mail: anaflores.rj@terra.com.br

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