Meu amigo Déco

Tenho um grande amigo que se chama Déco. Aliás, este é o apelido dele. Logo que comecei a estudar jornalismo, no começo dos anos 1980, eu era sócio de um jornal que concorria com o dele. Mas assim mesmo nos tornamos muito próximos. Amigos. Não é preciso acrescentar “de verdade” porque se o amigo não for “de verdade”, não é amigo. Passamos bons anos naqueles tempos. O Déco sempre foi um sujeito muito topetudo, como às vezes se diz daqueles que não têm medo de cara feia e muito menos das conseqüências de sua originalidade. E daí é que vem este incrível caso.

Numa daquelas eleições municipais, o jornal dele se posicionou ao lado de um candidato. E passou toda a campanha dizendo que o cara ia ganhar. Aos domingos, quando os assinantes recebiam o semanário, lá estava a certeza da vitória estampada em seguidas manchetes otimistas. Veio a eleição e o adversário levou a melhor. Não foi uma vitória estrondosa. Mas foi uma vitória. O candidato que o Déco apoiou durante os meses de campanha perdeu.

Na edição de seu jornal, o Déco não teve dúvidas. Talvez sem imaginar o tamanho do feito, ele criou na verdade um grande “case” (como adoramos pronunciar em nossas ridículas copiazinhas de como falam lá em cima). O “case”, o feito, um dos casos mais inusitados do jornalismo tupiniquim, traduziu-se nesta manchete:

Eleições municipais
SEM COMENTÁRIOS

Sim, o Déco mandou todo mundo às favas. Não quis nem saber. Nem sequer o resultado ele publicou. Perdeu a eleição, mas não perdeu a pose.

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