Tese sobre monstros

Tubarões petistas e tucanos cercam nosso barquinho à deriva

Tubarões petistas e tucanos cercam nosso barquinho à deriva

Dilma diz que o Brasil não quer a volta dos monstros do passado. Aécio rebate: o país tem medo dos monstros do presente.

Pra dizer a verdade, tenho medo dos dois.

Mas, afora as metáforas, o monstro realmente visível neste momento é Aécio. E foi o PT quem o criou.

Aécio nada mais era do que um candidato medíocre. Aliás, aqui está o fundamento: perdeu a eleição em seu próprio quintal. Dilma ganhou em Minas, estado que ele comandou. E, de quebra, o PT levou o governo estadual já no primeiro turno.

Era ou não era fraquinho?

Sim, era.

Mas não é mais. Agora virou um monstro. Forjado pela incompetência, pela prepotência e pela incoerência do governo petista.

Incompetência por não ter sido capaz de levar o país a uma profunda transformação política. Lula, mais do que Dilma, tinha força suficiente para isso, mas falhou. As mudanças não passaram da flor d’água.

Prepotência por considerar que a esperança depositada por milhões de brasileiros em ideias avançadas fosse durar para sempre sem sua real efetivação.

Incoerência por trocar os planos progressistas que fundaram e fortaleceram sua história pelas velhas políticas do troca-troca, do clientelismo e do fisiologismo.

Não entro aqui no âmbito da corrupção. Porque nesse campo todos têm o rabo preso. Dá empate. E não há prorrogação ou pênaltis que decidam.

O governo petista obteve importantes avanços sociais, é inegável. Tanto é que os programas que beneficiam as populações carentes constam também na plataforma governamental do Aécio. E certamente constavam nas que ficaram pelo caminho. Porque, embora a idiotice e o desconhecimento que assolam boa parte dos brasileiros permitam ataques a esse tipo de ação, o bolsa-família e afins são eficientes instrumentos para reduzir o imenso abismo social para o qual o governo tucano sempre deu as costas.

O governo tucano, na verdade, sempre esteve mais interessado em rifar o país com suas tresloucadas privatizações. Só não tentaram vender a mãe porque a mãe está envelhecida e fraca num cantinho simpático da Europa, banhada pelo Atlântico e sonhando com a volta de Dom Sebastião.

Aliás, falando em coisas antigas, até hoje eu me pergunto se o FHC tinha noção de que o real seria um tiro certo ou se foi por acaso. Minha tendência é acreditar que foi por acaso. Porque naquela época os tiros eram disparados para qualquer lado. Acertassem em quem fosse.

Mas esse é outro capítulo dessa história.

E aqui está o epílogo: o PT não tinha o direito de cometer os mesmos erros que cometeram seus antepassados no governo. Porque dos tucanos e de sua casta elitista, sempre foi natural esperar golpes cruéis contra o grosso da população, contra os trabalhadores, contra os aposentados, contra as donas de casa, contra os miseráveis etc etc. Sempre foi natural porque não é fácil para qualquer povo deixar a submissão depois de séculos e séculos de amém.

Só que ao tirar a cabeça fora d’água, a grande massa indignada passou a identificar velhas práticas nas caras novas, e também voltou a levar as cacetadas de sempre. E começou a se perguntar: “Até tu, Brutus?”.

Essa é minha breve tese, genérica eu sei, sobre a origem do monstro Aécio. Tese fundada numa grande decepção.

Por fim, tento imaginar o cenário pós-segundo turno. E a conclusão é angustiante: com Dilma ou Aécio, vamos ainda levar um bom tempo para superar a passagem de tantos monstros, dinossauros, dragões e ratos por nossa devastada política.

Tags: , , ,

Comments are closed.