Ária árida

Público durante o show de Léo Canhoto e Robertinho, na Fazenda Barra Gr<script type=

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No te apures ya más, loco
porque es entonces cuando las horas
bajan, el día es vidrio sin sol

(Trecho da canção “Bajan”, Pescado Rabioso)

Lá fora, o vento morno mexe levemente as folhas do coqueiro. A noite caiu não faz muito tempo e as estrelas começam seu balé de brilhos prateados. Nós já estamos deitados. É o sítio lá pelo início da década de 1970. Aqui as horas baixam mais cedo.

Tenho sete ou oito anos. Meu tio liga o rádio de pilha num programa cujo nome era "Linha Sertaneja Classe A". Não me lembro se era na Record ou na Capital. Mas me lembro do nome do apresentador: José Russo. As velhas duplas sertanejas desfilavam suas vozes ali. No rádio AM.

Mais de quarenta anos depois, estou numa fazenda. A tarde cai com a lentidão própria das coisas do campo. Cai por detrás de árvores de galhos secos, judiados pela estiagem. Ali, em meio à vegetação e a pessoas simples, a dupla "Léo Canhoto e Robertinho", uma das mais antigas em atividade, solta a voz.

E nos meus pensamentos, avançam os ecos da vida que ficou para trás.

Não tem a ver com gosto musical. Com estilo de vida. Nada disso. Apenas me vêm ondas inexplicáveis de uma nostalgia feroz.

Ao lado de amigos, vasculho certa alegria de estar entre gentes de uma simplicidade de machucar o coração.

Um senhor passa por mim e fala qualquer coisa sobre o show. Fala como se me conhecesse desde os primórdios do mundo. Passo o braço em torno de seu pescoço para tirarmos uma foto juntos. Tenho vontade de dizer a ele eu admiro o senhor, independentemente de quem o senhor seja, eu admiro o senhor. Sabe por quê? Por que o senhor é o mato, a árvore, aquele pássaro que sentou no galho seco, o senhor é a própria seca! É por isso que eu admiro o senhor!

Mas não falo.

A dupla canta músicas que não conheço. Alguns amigos as sabem de cor e salteado. Eu mexo a boca com eles. Finjo que canto. Mas meu canto é só um pássaro de asas machucadas. Que não se abala aos quatro ventos. Que não explora a imensidão do céu cinza do inverno quente de agosto. Que não gorjeia lá atrás das casas velhas e antigas. Das telhas escuras e carcomidas. Do boi que pasta indiferente sob o último raio de sol que faz o horizonte alaranjado e triste como são todos os horizontes dos sítios à tardezinha.

No palco, os velhos sertanejos falam de um último julgamento. Já está quase escuro. Todas aquelas pessoas que chegaram no início da tarde, e desde há um bom tempo acomodadas em cadeiras, sentadas e atenciosas, sob uma educação exemplar, todas aquelas pessoas cantam com eles, viram-se para o lado e fazem comentários com os vizinhos, aplaudem, pedem outra, um velho de pele judiada pega na mão da mulher talvez sem se dar conta do carinho espontâneo, a noite cai.

Ouço de novo os galhos do coqueiro, o chiado do rádio, o pio da coruja, o latido distante dos cachorros, o mugido das vacas, uma fruta que cai do pé. Vejo pela janela as estrelas que só brilham nos sítios. O vento morno roça meu rosto.

Estou em casa...

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