O fôlego do vovô

Pesquisa inédita feita pelo Ibope põe o jornal impresso como o meio de comunicação no qual os brasileiros mais confiam. O velhinho, o vovô da notícia, fica à frente do rádio e da televisão!

Leio essa informação, deixo de lado meus escrúpulos e sinto aqui no peito uma pontada de emoção. Bobo, né? Ou não. Eu passei boa parte da vida em redações de jornais. Trabalhei também em TV, revista, rádio, internet etc, mas minha formação é no jornal impresso. Era lá que eu me sentia em casa, era lá que eu me sentia como um operário que ajuda a construir um prédio por dia. E depois admira, orgulhoso, a obra.

Do primeiro momento, ainda em Cafelândia, até o último (em 2011), não se passou um dia sem que de algum modo eu sentisse essa pontada no peito. Foram quase trinta anos. Um furo de reportagem, uma grande capa, uma linda história do cotidiano, uma foto arrebatadora e, às vezes, uma bobagenzinha qualquer, não importava o que fosse, desde que fosse um conteúdo produzido com carinho e profissionalismo para o leitor.

Acho que o jornal (eu digo isso desde que os apocalípticos previram o fim do impresso após o advento da internet) ainda sobreviverá por muito tempo. As análises mais aprofundadas ficam para os estudiosos. De minha parte, sei dizer que nenhum outro meio de comunicação deixa-se pegar nas mãos como o jornal, todos os dias, completamente entregue, oferecido, devasso.

O palpável e o documental, características do jornal impresso, são atrativos demais para que o público sedento de informação resista aos seus encantos. Talvez esses aspectos sejam fundamentais na confiança que lhe é atribuída. Até hoje, com toda a parafernália tecnológica ao alcance das mãos, é comum ouvir frases como “claro que é verdade, saiu no jornal”.

Atualmente fazem até sexo pela internet. Realmente por meio do jornal fica difícil. Mas talvez aí esteja a solução mais aproximada dessa equação complexa. Ao contrário da internet, que se transformou num grande tacho com os mais diversificados conteúdos, o jornal (eu digo o meio jornal), debaixo de sua humilde proposta, apresenta-se com foco e clareza: não faço sexo, mas você pode me embrulhar, me pisar, me amassar, e mesmo assim amanhã eu volto pra você.

Quer maior lealdade?

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