Episódio de Natal, na rua

QUERIA TANTO
te falar algo,
te dar um presente,
te desejar felicidade,
acho que também te beijar

você vai descendo a rua, vestidinho florido,
a mão esquerda agarrada ao pai (suponho),
a direita traçando curvas no ar (proponho),
sob o dia nublado de dezembro

você vai descendo a rua, chinelinho de dedo,
dando passos entre pequenos saltos,
o cabelo dançando no meio das costas,
um sorriso que você não controla mais

você vai descendo a rua, arquinho na cabeça,
esperando o que não sabe talvez (acredito),
uma surpresa quem sabe,
um momento feliz (bendito)

quero ir até você e te falar,
mas não dá, não sei nada disso,
e o que dizer ao pai?
não dá, repito pra mim

e fico no carro te olhando,
vidro fechado escondendo meu estado,
você já perto da esquina longe,
com seus sonhos de Natal

(Hoje, não sei por que, lembrei dessa menininha que, há uns três ou quatro anos, descia a rua Azarias Leite num sábado de Natal, toda animada em sua simplicidade. O pai (acho que era), um homem rústico, de chapéu, calça clara, camisa xadrez e bigode, a levava pela mão. E eu fiquei pensando que a menininha ia esperando que ele lhe comprasse um presente. Espero que sim. Que ele tenha comprado. Que ela tenha ficado feliz. Que ela seja feliz.)

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