‘Dez dias que abalaram o mundo’ é eterno alerta ao jornalismo moderno

Capa da edição da Penguin Companhia

Acabei de ler “Dez dias que abalaram o mundo”, que ganhei do mestre Matinas Suzuki Jr. As considerações mais adequadas, feitas por gente de melhor gabarito, estão nos livros, nos jornais e na internet. Dizer algo a respeito do conteúdo da obra-prima de John Reed está acima das minhas possibilidades. Mas há um aspecto ao qual posso me apegar: nestes tempos de jornalismo de gabinete, o livro dá um nó apertado no dedo de quem atua nessa inexplicável profissão.

Jornalista norte-americano, John Reed presenciou os dias decisivos da revolução bolchevique de 1917. Movimentou-se entre os círculos políticos que faziam ferver Petrogrado (atual São Petersburgo ou apenas Petersburgo) naqueles momentos de disputas nos bastidores e nas ruas, onde os bolcheviques – comandados por Lênin e Trótski – desafiavam todas as demais facções da velha Rússia.

Hoje, quando nosso jornalismo apega-se terrivelmente às facilidades das novas tecnologias, desprezando – às vezes por necessidade, às vezes por desinteresse – o testemunho, a proximidade e a riqueza da fonte onde brota a informação, ler o livro de Reed é para todos nós, que podemos nos considerar parte do atual jornalismo, um soco no estômago.

Reed estava lá. Não economizou qualquer tipo de esforço para estar em meio aos protagonistas de um dos mais importantes acontecimentos da história. Chegou mesmo a pegar em armas para viajar com soldados, para falar com comandantes, para buscar a informação que pretendia. Tudo tão diferente dos dias de hoje, quando às vezes desistimos após o segundo telefonema.

“Dez dias que abalaram o mundo” é tido como a primeira grande reportagem moderna. Reed fez por merecer a honra. Sua coragem e talento morreram cedo demais. Antes de completarem 33 anos.

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