Futebol e cinema – Texto de Fernando BH

No primeiro texto que assinei neste espaço, recomendei o filme “O Milagre de Berna” antes mesmo de tê-lo visto confiando na crítica, que o citou como uma das melhores reproduções de um jogo de futebol.

Realmente, a reconstituição da final da Copa de 1954, vencida pela Alemanha, impressionou. O húngaro Puskas ganhou um sósia e tanto. O irritante recurso de filmar canelas aparece pouco, mas os efeitos especiais não combinam com uma partida de meio século atrás. Em resumo, passa. Continuo recomendando.

Apesar de muitos verem exagero nacionalista, não vejo como ser diferente, pois aquele Mundial simbolizou o renascimento dos germânicos, destruídos pela guerra motivada por eles mesmos.

Entretanto, o verdadeiro milagre - o de haver um filme muito bem feito sobre futebol - já havia acontecido. Em 1998, Ugo Giorgetti dirigiu "Boleiros: Era Uma Vez o Futebol". Sensacional.

Estava tudo lá: o boteco, a cerveja, os causos, a bola. Sem pieguice, foi fundo no maior drama do boleiro, que é parar de jogar. Os lances de jogo - que eu tanto sonho ver retratados com fidelidade no cinema (como é o futebol americano em "Um Domingo Qualquer" e "Duelo de Titãs") - não são lá essas coisas, mas quem se importa? "Boleiros" tem o cheiro do gramado molhado, pois apela ao imaginário, como faz o próprio futebol.

A espera foi longa até a seqüência do filme, produzida em 2005. Ainda está lá o treinador turrão vivido por Lima Duarte, com seus palavrões italianados. Impecável. O melhor momento do longa.

"Boleiros 2: Vencedores e Vencidos" passa a sensação de estar faltando algo, mas é covardia comparar com o primeiro. E, com sobras, merece ser recomendado. Ainda mais se pensarmos em recentes produções brasileiras desastrosas.

"Zico - O Filme" tinha tudo para ser uma linda cinebiografia, pelo brilhantismo do herói em questão, mas judia do espectador. Dá a impressão de que quem fez entende pouco de futebol, ao priorizar a dramatização - com um ator perna de pau.

Em "Garrincha - A Estrela Solitária", o único mérito está na impressionante caracterização de Taís Araújo como Elza Soares. Melhor ficar com o livro de Ruy Castro.

O erro nos filmes desses dois craques não se repetiu em "Pelé Eterno". A estrela é o próprio Pelé - exceção feita à reconstituição do gol de placa do Maracanã e à sua infância em Bauru.

Documentário bem feito, com roteiro de José Roberto Torero. Pena que Edson Arantes do Nascimento não é tão bom quanto Pelé.

Entre outros problemas, o lançamento do filme foi adiado para ser omitido, na edição, o gol de Gérson na goleada sobre a Itália, na final da Copa de 1970. Tudo porque o Canhotinha havia criticado uma opinião de Pelé dias antes. Atitude pequena para um Rei.

Entre essas e outras, pelo menos o maior jogador de todos os tempos ficou eternizado. Todas as gerações poderão comprovar que não houve - nem haverá - alguém como ele dentro de campo.

O que há de comum entre os filmes nacionais sobre futebol? Bilheterias vazias. Como afirmei em outro artigo, brasileiro não consome futebol.

E-mail: fernando_bh@yahoo.com.br

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