Aprendiz de Autran Dourado – Texto de Dudu Oliva

No início deste ano fui tentar fazer um outro curso de pós-graduação. Queria uma especialização em literatura, já que estou cursando uma de Jornalismo Cultural. Queria de graça, fiz a prova na minha antiga faculdade a UFF(Universidade Federal Fluminense), não passei.

Chateado, andei meio sem rumo pelo centro da Cidade. Resolvi ir ao sebo perto da Praça-Quinze. Não acredito em destino, mas, ao procurar livros interessantes, encontrei o romance de Autran Dourado.

Instintivamente peguei o livro e li um trecho que me convenceu que deveria comprá-lo: "E o tempo passou ligeiro. Se despediu do romantismo e das paixões desesperadas, verdadeiras ou imaginárias, contrariadas ou incompletas. E procuraria se libertar do seu círculo fechado e asfixiante, incorporando o seu saber técnico e as suas conquistas à obra madura que sonhava realizar, conscientemente procurando esquecer o que sabia, para alcançar, através do trabalho e de outra disciplina, a sua técnica e expressão, verdadeiramente livres pouco importando o preço que tivesse a pagar.”

Momento clichê: será que o encontro que tive com este livro estava escrito? Ao ler a relação de obras, descobri que há muitos anos, na escola, havia lido "Uma vida em Segredo" (1964). Recordo-me que achei a história muito triste, mas não trágica. A protagonista não conseguiu se adaptar na vida e a solidão acompanhou-a até a morte.

Tive que prestar bastante atenção no romance "Um artista aprendiz" para perceber quando era o narrador em terceira pessoa e quando eram os personagens que falavam.

O autor não inseriu travessões nos diálogos. A diagramação dos parágrafos parecia feita de blocos homogêneos. Recordei de três livros que li do Saramago há tempos atrás.

A história de Autran Dourado narra trajetória e a formação literária e filosófica do protagonista, João da Fonseca Nogueira. O romance faz referencia a "Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister", de Gothe (Boa pedida! Tenho que ler!!). "Cada um tem sua felicidade nas mãos como o artista a matéria bruta à qual ele quer dar forma. Na artes de ser feliz e em qualquer outra arte, só a capacidade é inata: é preciso aprendizado e acurado exercício."

O jovem romântico João constrói o seu olhar a partir das leituras, conselhos dos mais velhos, relações familiares, paixões vividas, trocas com amigos, fatos históricos da sua época e a atividade de escrever assiduamente.

Ao terminar o livro, pensei no ritual antropofágico. Nós sempre digerimos valores e conhecimentos alheios e refletimos acrescentando ainda mais ao conhecimento humano com críticas e observações.

O artista, principalmente, necessita sempre construir sensibilidade para assimilar o que acontece à sua volta, tanto na sociedade com nos movimentos culturais.

João observava os fatos, lia outros escritores e estilos literários do clássico à vanguarda até chegar à tão sonhada maturidade para desenvolver a sua própria literatura.

Contudo, não deixava de lado as raízes antigas. “ Não viverei mais com a visão do horizonte barrada pela serra do Curral, dizia pensando em deixar Minas Gerais. Mas levarei Minas comigo, como o rio que para ser à sua fonte toma a direção do mar.”

O escritor Autran Dourado contextualizou no romance "Um artista aprendiz" questões atemporais sobre arte e literatura. Para o personagem principal João, a arte faz refletir, nunca deve ser usada para exercer dominação, causando um empobrecimento intelectual. A literatura que ele pretende fazer sobrepõe qualquer ideologia dominante. É a sua expressão mais verdadeira.

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Ps: A edição que li foi da editora José Olympio

E-mail: dudu.oliva@uol.com.br

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