Por isso eles existem

Não, não me refiro a lobisomens, mulas-sem-cabeça e semelhantes. Nunca os vi pessoalmente, mas pelo sim, pelo não, digo que los hay. Refiro-me a uma praga concreta e palpável, embora sua especialidade seja esconder-se atrás de árvores, portões e em cima de telhados, na caça implacável do flagrante de celebridades. A praga da era da comunicação instantânea e de tudo-pelo-lucro e que se chama paparazzo.

Uau! A princesa tem celulite! Olha só, a atriz não usa calcinha! Fulano e Beltrana reataram! Fulano e Beltrana terminaram o romance! Vejam quem está com quem! Olha a barriga do ministro, saindo da academia! A Fulana está saindo com o Ciclano, ex da Beltrana, que por sua vez acabou o noivado com o ex da Fulana. Adivinhe quem é o casal transando na praia?

A celebridade, voluntária ou involuntariamente, alimenta os paparazzi, que alimentam a mídia especializada, que alimenta o público leitor e voyeur, sedento de novidades de vidas alheias, já que nas suas não deve acontecer nada de interessante.

As fotos navegam pela internet, de endereço em endereço, em sites de vídeo, cada um que recebe passa adiante para sua lista de amigos e tudo é uma festa só. Uma festa efêmera, é verdade, pois dois dias às vezes são suficientes para esgotar a novidade, já que outra está saindo quentinha para ocupar olhos e mentes vazios. Com tanto interesse demonstrado por seu trabalhinho sujo, o paparazzo acirra a busca do flagrante, da intimidade alheia ou da aberração, vendáveis a bom preço no mercado especializado.

Há celebridades e celebridades. Algumas sabem perfeitamente se preservar, mas mesmo assim são perseguidas, às vezes implacavelmente. “Eu só estou fazendo o meu trabalho” – justifica-se um deles. Se essa espécie de trabalho continua a existir é porque o tipo de leitor e sua curiosidade específica o alimentam e o estimulam a continuar. Acabando a demanda, acaba a oferta. Ou alguém imagina o representante da Maison Chanel no Brasil inaugurando uma loja no sertão do Piauí, ou o tráfico de armas tentando expandir seus negócios entre monges budistas? Elementar, meu caro leitor.

E-mail: anaflores.rj@terra.com.br

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