Eu quero sempre mais – Texto de Fernanda Villas Bôas

“Eu quero sempre mais,
Eu quero sempre mais
Eu espero sempre mais… de ti”

(Eu quero sempre mais, Ira)

Você se lembra da prostituta Vivian (Julia Roberts) negando beijos na boca ao seu cliente Edward (Richard Gere) numa cena memorável de "Uma Linda Mulher"? No filme, o tal cliente é um empresário boa-pinta e milionário, que contrata os serviços de uma acompanhante e a leva para uma suíte de luxo. Quando o clima começa a esquentar, ele tenta beijá-la, mas é sumariamente rejeitado. A moça explica que beijar na boca não faz parte do pacote - é íntimo demais.

Agora, a parte curiosa: essa reação, que parece natural para muita gente, tem comprovação científica. No livro "O Dossiê do Beijo - 484 formas de beijar" (Catedral das Letras Editora), o autor Pedro Paulo Carneiro cita um estudo desenvolvido pela pesquisadora inglesa Martha Stein em 1980. Interessada em avaliar o comportamento de garotas de programa, ela assistiu, escondida em quartos de motéis, a 1.230 relações sexuais entre 64 prostitutas selecionadas para a pesquisa e seus clientes. A conclusão: a grande maioria das mulheres não beija na boca porque tem medo de se apaixonar.

Mas por que uma aura sagrada ainda ronda esse gesto entre quatro paredes? Afinal de contas, com a banalização do sexo, o beijo deveria servir como um tempero do prato principal, certo? Errado. O beijo, na verdade, é o ingrediente mais nobre da receita, tratado, portanto, como uma experiência de profunda intimidade na relação afetiva e legitimado como um termômetro da intensidade dessa relação. Em outras palavras: quando o envolvimento vai bem, os beijos são doces, macios, calientes, cheios de suspiros, movimentos, surpresas. Se a união estiver na corda bamba, o encontro dos lábios será frio, estático, arredio, amargo, protocolar.

Tudo isso está ligado à representação cultural desse gesto na sociedade ocidental. Herança da cultura greco-romana e traduzido como símbolo de
afeto, o beijo ganhou mais status com o romantismo, que marcou as artes e o comportamento das pessoas há três séculos. Mas o fator sociocultural não é o único motor de arranque dessa história. Cada vez que uma pessoa é beijada por alguém que ela ama e deseja, seu corpo sofre uma revolução: o coração bate mais rápido, a pressão arterial aumenta, o impulso sexual é acentuado, o sistema imunológico é ativado e os sentidos ficam despertos. Beijar ainda melhora a memória, promove uma ginástica facial antienvelhecimento e tem uma vantagem extra: emagrece. Um beijo curtinho é capaz de eliminar até 15 calorias!

Assim, tomar uma bola de sorvete de creme não precisa ser uma experiência tão traumática para quem vive em dívida com a balança: basta se livrar das calorias geladas com 29 beijos de pelo menos de 10 segundos cada. Se preferir uma barra de chocolate de 100g, o "esforço" terá que ser quase dobrado: 45 beijos. As gordurinhas de um pão de queijo médio devorado fora de hora também podem sumir da silhueta depois de um beijo de 2 minutos e 50 segundos. Fácil, né?

Afeto que não se encerra

Se você precisa de outro motivo para acelerar o ritmo dos seus beijos, fique sabendo que o ato de beijar contribui para elevar o nível de serotonina no cérebro. Serotonina é uma substância do sistema nervoso que atua como uma "ponte" entre os neurônios e aciona duas sensações superdisputadas: o bem-estar e o relaxamento. Por esse motivo, quem beija mais tem maior probabilidade de atenuar o estresse e experimentar prazer.

Estudos clínicos indicam que os portadores de depressão revelam baixo grau de serotonina, o que vem levando muitos pesquisadores a acreditar que o tratamento desses pacientes não depende apenas de medicamentos e psicoterapia, mas de uma dose cavalar de afeto, incluindo, é claro, os beijos na boca.

Receitinha apaixonada

No livro "Dossiê do Beijo - 484 formas de beijar", há uma receita para quem deseja seduzir: chupe um pedaço pequeno de gengibre e um cravo durante 5 minutos como se fossem balas. Depois, jogue-os e faça um bochecho com água gelada. Em seguida, aproxime-se e olhe para a boca de quem você deseja beijar. Os indianos acreditam que essa fórmula é afrodisíaca, já que o aroma associado de cravo e gengibre é agradável e libera serotonina, a substância detonadora do prazer.

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