10 dias em Cuba, onde convivem a miséria e a riqueza humanas

Eliane Calixto
Especial para o blog

Por que Cuba? Desde que decidi viajar para aquele país nas minhas férias, essa foi a pergunta que mais me fizeram. Alguns amigos falavam: “Cuba é um país miserável, sem estrutura pra receber turista e, se bobear, você vai ter que levar até papel higiênico na mala”. De uma certa maneira, eles tinham razão…

Lembro-me de ter ido a alguns bares e restaurantes de Havana, onde não encontrei nem papel nem sabonete nos banheiros. Mas pra mim, isso não passou de um pequeno detalhe que, definitivamente, me incomodou muito pouco. E sobre a miséria, realmente encontrei, em plena capital, muitas construções em ruínas que, ao invés de serem demolidas, estão servindo de habitação para a maioria dos cubanos.

Fiquei impressionada com a quantidade de nativos abordando os turistas atrás de itens básicos como sabão, sabonete... E as crianças querendo caramelos. E não era só nas ruas que isso acontecia...

No hotel onde fiquei hospedada, o Tritón (um 4 estrelas), as camareiras sempre encontravam um jeitinho de abordar os estrangeiros. Elogiavam nossas roupas, sapatos, cabelo e perguntavam se não tínhamos algo para dar. Tudo parecia novo e fascinante para aquelas mulheres que têm tão pouco acesso às novidades e informações que o mundo pode oferecer. Literalmente “ilhadas”, é o que me pareceu, mas sedentas por coisas diferentes trazidas pelos turistas.

Umas das funcionárias do hotel, uma senhora muito simpática com quem me encontrava todos os dias, vivia me perguntando sobre os produtos que eu passava para colorir os meus cabelos, sobre a moda no Brasil, queria saber se eu não tinha trazido na mala alguma revista feminina. Infelizmente, não havia levado muitas publicações do gênero na minha bagagem.

Mas além de pedirem coisas, os cubanos desenvolveram outra forma de ganhar uma grana extra e aumentar o orçamento doméstico (sem falar na prostituição: é muito comum encontrar, principalmente na noite, homens e mulheres cubanos “acompanhando” turistas). Eles se vestem com trajes típicos da cultura cubana – muitas cores, estampas e flores – e posam para as câmeras fotográficas de milhares de estrangeiros que visitam Havana ao longo de todo ano. E cobram 1 dólar por isso. E é muito engraçado, pois pra onde eu apontava a minha câmera, tinha um cubano fazendo um gesto com o dedo indicando 1 dólar.

Mas a vida deles não é tão ruim. Afinal, o sistema socialista lhes proporciona moradia, saúde e educação de graça. Parece ótimo, mas uma guia de turismo local me disse: “Mas com os 7 dólares que ganhamos em média, por semana, mal conseguimos pagar a comida, transporte, água e luz. Todos em casa trabalhamos para sobreviver!”.

Quanto ao turismo, acho que os cubanos ainda vão precisar de alguns anos a mais para aprenderam a lidar com isso. Em alguns bares populares, em Havana Vieja, cheguei a esperar quase 1 hora pelo meu pedido e mais meia hora pelo cafezinho e outra meia hora a mais pela conta. Mas a comida é boa! À base de carne de porco, arroz e feijão preto.

Fiquei surpresa ao constatar que existe uma Cuba para os cubanos e outra para os estrangeiros. Enquanto a gente se diverte, eles trabalham. Visitei algumas fábricas de fumo (não diga charuto, pois lá isso pode significar maconha. Eles chamam de havano ou puro) e descobri, pelos próprios trabalhadores dali, o quanto a rotina é desgastante: nada de feriados nem final de semana. Na parede, frases de Fidel: “Ser pobre é ser honesto. Nunca traia sua pátria e Fidel nunca te trairá”. A famosa frase de Che Guevara: “Hasta la vitória, siempre! (Até a vitória, sempre!) também era estampada em muitos lugares.

Cubanos só trabalhando? Nos cabarés e casas noturnas que fui, só dava turista e olha que nem escolhi aqueles lugares mais famosos pra freqüentar: fui ao Havana Libre, por exemplo, uma discoteca tida como popular, mas só encontrei cubanos servindo bebidas no bar, trabalhando como segurança e cantando e dançando, mas no palco... Na pista, gringos pra tudo quanto é lado.

É lógico que o povo cubano deve ter seus lugares prediletos para dançar e se divertir e, talvez, os locais que eu tenha escolhido para ir estejam fora do poder aquisitivo deles. Afinal, pagar 4 dólares para se beber um mojito (bebida típica cubana feita à base de rum, limão e folhas de hortelã), só turista mesmo pra bancar.

Mas falando em dança, nossa! Como os cubanos dançam, hein? Salsa, merengue, rumba, bolero... Era de tirar o fôlego! A orquestra era sempre formada de maracas, violão e bongôs. No vocal, homens e mulheres se dividiam na apresentação, dando um show de afinação e entusiasmo! Era impossível ficar de fora daquele clima alegre e festivo.

Ah, Cuba! Belas praias (não deixe de visitar Varadero pra ver o mar do Caribe), uma cultura rica, um povo hospitaleiro... Mesmo diante da miséria, tanta riqueza humana... Por essas e outras quero voltar um dia a Cuba. Mas gostaria de encontrar uma situação de vida mais digna pros cubanos, coisa que aqui no Brasil também sonho ver um dia!

One Response to “10 dias em Cuba, onde convivem a miséria e a riqueza humanas”

  1. Nicolau da Romênia disse:

    Existem duas Cubas; uma para a Elite de Exploradores Castristas que tem bairos separados do povo, e outra onde as pessoas moram em ruínas miseráveis sem esgoto e água encanada! Uma Cuba para estrangeiros, e a outra miserável para os cubanos! Com 15 dólares mensais os cubanos não podem entrar em locais onde entram estrangeiros!