Laranja

Minha origem é rural. Prezo muito as coisas do campo. Atualmente, em viagens a trabalho, atravesso rodovias (muito mal conservadas, como a grande maioria, é verdade) cujas margens são preenchidas pela vegetação, sejam matas ou plantações cultivadas. Em certos trechos, o domínio é da laranja.

Lembro-me de quando morávamos no sítio e sentávamos nas beiradas dos terreiros de café para chupar dezenas de laranjas. A preferida era uma fruta miúda que chamávamos “laranja abacaxi”. Nem sei se esse nome persistiu ou se a espécie ainda existe, mas o fato é que era doce como o mel. Havia adultos que consumiam quinze ou vinte delas de uma vez.

São curiosas as laranjas. Enquanto você as descasca, é possível apenas prever o que há dentro. Só na hora de chupá-las é que se conhece a essência. Muitas laranjas de casca bonita, daquelas que logo dão água na boca, revelam-se azedas, às vezes sem o sabor previsto pelas aparências ou mesmo apodrecidas.

E assim é a vida: uma ou várias laranjas imaginárias que, conforme o tempo passa, você vai descascando e consumindo. Em certos dias, elas estão doces, em outros, azedas ou podres. O que decididamente não dá é descascar, descascar e só encontrar laranjas podres ou azedas. Quero minhas laranjas doces de volta. Quero poder chupá-las até a última gota de suco.

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