Tambores vazios

Vejam como não tem muito segredo escrever sobre política no Brasil. É só atualizar a gramática. Publiquei este artigo no jornal “Bom Dia” em janeiro de 2006.

Tambores vazios

Os discursos políticos estão cada vez mais parecidos. E vazios. Com raros desvios de percurso, todos defendem basicamente as mesmas propostas. São textos decorados e escolhidos para soar bem aos ouvidos da população. Mas o pior mesmo é perceber cá embaixo, entre nós, plebeus compadecidos, a praga da mesmice.

Tenho saudades do Déco*. O Déco, se não me engano uns 15 anos mais velho, é um amigo de muitos anos, jornalista impetuoso e de poucas meias palavras. Eu me lembro que numa certa época, tínhamos ideias completamente distintas. Ele era Collor, e eu Lula. Ele tricolor e eu palmeirense. Ele Estadão e eu Folha. Batíamos de frente, pero sin perder la ternura jamás.

É preciso ser autêntico, não é?

O Déco tem um jornal semanal em cidade pequena, onde a realidade é muito cruel para a imprensa. Certa vez, numa das bancas, um leitor fez a reclamação:

– Dequinho, seu jornal tem pouca notícia, não tem o que ler…

O jornalista não teve dúvidas:

– Meu jornal é só para você dar uma olhadinha. Se você quiser ler muitas notícias, compre o Estadão ou a Folha.

Isso é ser autêntico. Não importa se para o agrado da maioria ou da minoria, de todos ou de ninguém. Ter ideias é ter riquezas. Falar delas claramente é ser honesto. Que triste ouvir os atuais discursos políticos, onde, grosso modo, impera a hipocrisia, que por sua vez leva à mediocridade.

Outro amigo, o Bento, que também é amigo do Déco, gosta de uma frase do Barão de Itararé: “o tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro”.

É isto: xô, tambores vazios.

* O Déco já morreu.

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