O lenço vermelho do Madô naqueles tempos em que o Brasil perdeu a Copa

No meio do campo e dos carrapichos ele atuava com certa elegância. Feito um desses jogadores dos quais fogem as oportunidades de brilhar nos grandes clubes do futebol. Ao menos é assim que eu o vislumbro quando me contam sobre o episódio dramático que realmente aconteceu lá pelos idos do século passado, nos tempos em que o Brasil perdia em casa a Copa do Mundo.

O lugar e sua topografia eu conheço bastante. O campo, onde instalavam traves de quinas quadradas, era demarcado aos domingos onde o gado pastava durante a semana. Escolhiam um fragmento de terra onde a inclinação permitia ao menos que a bola rolasse sem pender demasiadamente para um dos lados.

Havia pequenas moitas de carrapichos, juás e outras pragas, mas os jogadores eram acostumados a essas simples adversidades, pois eram trabalhadores, sitiantes, colonos, enfim, moradores da zona rural. A cem metros dali, passa o riacho. Bem perto, a estrada por onde chegava o caminhão de cuja carroceria saltavam jogadores e heróis espectadores.

Foi aí que aconteceu.

Madô, com as longas pernas que carregavam todo o seu vigor físico de vinte e poucos anos, corria com a bola colada aos pés, cabelo penteado para trás com brilhantina e um lenço vermelho preso à mão direita, o que lhe acrescentava distinção especial em meio à rusticidade do ambiente.

Só que naquela tarde de calor e sol forte, os fios de suor desciam pelo seu rosto e percorriam sua pele acintosamente sem que ele se enxugasse com o lenço. Esta afinal, todos pensavam, seria a função daquele pequeno recorte de tecido rubro que sua mão enorme segurava como um amuleto.

Mas estavam enganados.

Um encontrão mais ríspido bem no meio do campo atirou ao chão dois adversários, um dos quais era Madô. Ele deslizou por dois ou três metros sobre o capim. E pela primeira vez desde que jogava bola ali o lenço lhe escapou e revelou seu segredo. Deixando atônitos os que viram a cena, a alguns centímetros de sua face encharcada de suor, brilhou aos raios daquele sol infernal o fio de uma navalha.

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