Jornalismo e eleições


Capa do NY Times com Obama eleito: jornal declarou apoio

É comum nos Estados Unidos jornais apoiarem um certo candidato, por exemplo, à presidência. O New York Times, jornal mais famoso e influente do mundo, deu apoio a Obama. O apoio é declarado. O leitor é informado claramente pelo veículo sobre os motivos da opção. A cobertura jornalística, entretanto, procura ser isenta. O noticiário, ao menos em tese, não favorece o candidato escolhido. Seria uma boa no Brasil?

Sempre que essa discussão é levada à mesa por estrategistas e diretores de empresas de comunicação, uma das principais considerações é que o brasileiro não tem ideia do que seja esse tipo de postura. A história da imprensa no Brasil aponta para outra direção. Assim, o público levaria talvez muito tempo para confiar num veículo que se propusesse a dar apoio a este ou àquele candidato.

Ou seja, o veículo teria uma grande ameaça em seu caminho, a mais terrível de todas: a possível perda de sua eventual credibilidade, conquistada muitas vezes em décadas ou século.

O fato é que os jornais, as emissoras de TV ou qualquer outro veículo de comunicação têm por trás de suas páginas, de suas imagens, de seus sons, enfim, de seus mecanismos, homens com preferências, com paixões, com ideias, com opiniões.

Na hora da cobertura jornalística, é claro, há acima deles uma linha editorial – que depende da seriedade de cada veículo – capaz de fazer com que as preferências, as paixões, as ideias e as opiniões deem lugar à incessante busca por algo que no jornalismo representa uma espécie de elo perdido: a objetividade.

Não seria, então, mais adequado e honesto que os veículos de comunicação dissessem ao seu público “apoiamos fulano, mas jamais deixaremos de lado nosso compromisso com você, cuja preferência pode ser diferente da nossa”?

Não seria melhor para o próprio público?

Não sei.

Num país onde a imprensa é sempre tida como uma das instituições mais confiáveis, sendo que parte dessa confiança talvez se deva exatamente ao modelo que adotamos, não será fácil para ninguém se decidir a quebrar esse paradigma.

Também aqui parece valer para a sociedade o velho dito popular: o que os olhos não veem o coração não sente.

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