Relógio

Acordei outro dia às seis e pouco. A luz pálida que entrava pelas frestas da janela iluminava o relógio branco da cabeceira. Estava ali o tal, logo cedo e já uma expressão pouco simpática emergia de sua moldura arredondada. O ponteiro fino, o dos segundos, avançava incansável, sem rodeios, prepotente como sempre. O maior deles, o dos minutos, punha-se num movimento dissimulado. Sabe aquela chuva que nos convida a atravessar a rua por ser fraca e depois nos surpreende ensopados? Pois assim o é também esse pino longo dos minutos em sua constante zombaria. Já o das horas, aquele curto e grosso, é de um descaramento só. Finge-se morto, mas é voraz. Vai, de pouco em pouco, como o abutre faminto, bicando nossos pedaços. Não dormi mais. Fiquei só olhando aquele relógio...

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