Histórias reais e defuntos imaginários

Conta-se que o velhinho, louco por um pandeiro (e uns tragos), saíra do último boteco e, a caminho de casa, vislumbrou mais uma possibilidade de continuar a noitada: numa casa ali perto, havia uma certa movimentação, luzes na madrugada, gente que entrava e saía. Festa, pensou o boêmio. Sacou o pandeiro e já chegou enfeitiçado, fazendo o instrumento chacoalhar. Ele só não contava que tinha entrado num velório. E, claro, botaram o velhinho pra correr.

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Também rolou o seguinte (num outro dia, mas na mesma cidade): o sujeito morreu e levaram o corpo pra velar em casa. A noite correu normalmente, com seus choros e comoções. Lá pela hora do enterro, já com o sol alto, foram buscar a tampa do caixão atrás da porta da sala. Só que a tampa não estava mais lá. O caso é que, sorrateiros, dois ou três moleques a surrupiaram e àquela altura dos acontecimentos estavam se divertindo no asfalto quente. Tinham feito da tampa um veloz carrinho de rolimã. E agora iam apanhar.

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Como diz o título, os dois casos são verídicos. Mas eu incluiria aqui o seguinte: dentro daquelas caixas tristes, seus eternos proprietários ficaram putos da vida com as censuras feitas ao velhinho e aos garotos. A música no velório e a corrida com a tampa do caixão devem ter sido sua última diversão de corpo presente. Cá entre nós, melhor do que as aviltantes orações e as tristes lágrimas.

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